AGENDA 2020

GIRAS CANCELADAS DEVIDO A PANDEMIA

26/09 (Sáb) - 19h - Festa de Cosme e Damião

24/10 (Sáb) - 19h - GIRA DE PRETOS VELHOS

21/11 (Sáb) - 19h - GIRA DE BAIANOS

19/12 (19h) - GIRA DE EXUS

(senhas entregues das 18:45h às 19:00h)

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

AQUI TEM UMA FLOR!

             Certo dia, Buda reuniu todos os seus discípulos e simpatizantes para um discurso. Isso era bem comum, o iluminado homem costumava dar longos discursos; passou a vida apresentando sua filosofia, andando por vários lugares onde as pessoas se amontoavam para ouvi-lo. Suas palavras eram avidamente esperadas pelos discípulos, sua argumentação era lúcida e direta. Os momentos de discurso eram sempre aguardados como encontros de reflexão em que Sidharta Gautama dava conhecimento e transmitia sabedoria à comunidade.
            Mas, naquele dia, seria diferente. Estavam todos reunidos aguardando suas palavras, algo muito semelhante ao que fazia Jesus no Monte das Oliveiras; então Buda chegou com uma flor na mão e não disse nenhuma palavra. Não era encontro de meditação, era um encontro de palestra, de doutrina, de ensinamentos e aprendizado... Então, por que ele estava ali em silêncio com uma flor na mão? E assim permaneceu durante horas. Seus discípulos ficaram em desconforto, tentando imaginar o que ele queria dizer com aquela flor? O silêncio muitas vezes faz as pessoas se sentirem constrangidas.
            Buda tinha entre seus discípulos homens que já eram considerados mestres, homens de mente ágil e raciocínio lógico, muitos deles, ao ver a flor, começaram a filosofar e racionalizar o que representava aquela flor e numa explicação para sua presença. No entanto, houve um discípulo chamado Mahakasiapa que simplesmente sorriu. Fato que deixou os outros discípulos mais constrangidos ainda. Seu sorriso era visto como uma falta de respeito. Ao perceber isto, riu mais ainda; ele não precisava mais de discursos ou argumentações, ele sabia que, por mais que se explique, ninguém entende o que não pode sentir. Neste momento a filosofia não servia para nada, quando se poderia apenas sentar e compartilhar o que não pode ser dito.
            E, em meio ao silêncio e ao constrangimento, a única coisa que se ouvia eram as risadas de Mahakasiapa. Ele não era erudito, não era considerado um mestre, não era filósofo, nem argumentador, pelo contrário, era um homem muito simples e rústico. Então Buda foi até ele e lhe entregou a flor dizendo: “Tudo que as palavras podem dizer, eu entreguei aos outros discípulos. E o que as palavras não podem dizer, eu entrego a você!”. Assim nasceu o Zen Budismo, uma forma de iluminação repentina, que está além das palavras, que se alcança apenas pelo meio da meditação, do silêncio e da contemplação.
            A flor representa o amor. Amor que está além das palavras e simboliza a verdade última, sublime e divina, inalcançável pela razão humana, mas que pode ser sentida e transmitida de pessoa para pessoa. Os grandes mestres são amantes de Deus, seus espíritos sagrados preferem silenciar diante da ignorância; pois sabem que nada pode explicar aquilo que apenas pode ser sentido.
            No dia 15 de novembro de 1908, Zélio de Moraes foi levado a uma reunião espírita, aonde estavam reunidos velhos senhores que seguiam o código de Kardec, a ciência dos espíritos, e antes mesmo de iniciar a sessão, Zélio de Moraes afirmou: “Aqui falta uma flor”. Zélio vai ao lado de fora, busca uma flor e coloca sobre a mesa. E mais uma vez na história da humanidade, a flor cria desconforto e constrangimento. Assim como o amor cria constrangimento aquém não o conhece, ou tem a oportunidade vivê-lo.
            Enquanto a ciência fala por meio da razão, da lógica e da filosofia, o amor fala por meio do sentimento, do canto e da poesia. O amor não necessita de argumentação, o amor é apenas para ser sentido. Por isso não buscamos na Umbanda, doutores, intelectuais, filósofos ou cientistas entre nossos guias. Buscamos o amor do Caboclo, do Preto-Velho, do Exu e da Criança. Algo acontece quando estamos em sua presença, algo especial que não temos como explicar por palavras, apenas sentir: assim é a Umbanda. Podemos dizer que Umbanda é amor, é a flor dos Orixás trazida pelos guias de luz, verdadeiros mestres que amam a Deus e não se importam com títulos, mas sim com a natureza, a poesia, o canto... e o sentimento! Axé!
            Texto baseado no artigo de Umbanda Sagrada do escritor e sacerdote Alexandre Cumino, publicado originalmente em novembro de 2011.

Gustavo C M Souza, é bacharel em História pela USP e dirigente do Centro Espírita de Umbanda Ogum Sete Espadas
Contato:
www.facebook.com/jorge.guerreira

Texto publicado no Jornal "O Guaíra" de 20/08/2015.

sábado, 15 de agosto de 2015

UMBANDA NÃO É MACUMBA!


Poderia iniciar este artigo com uma simples pergunta: o que é Umbanda? Mas seria óbvio demais nos dias de hoje, globalizado e com excesso de informação... Portanto, serei objetivo e vou direto à resposta que há muito tempo precisa ser dada: Umbanda não é macumba! Exatamente isto, repito: Umbanda não é macumba. Parafraseando o autor Alexandre Cumino, estudioso do assunto, venho revelar para o público leigo que Umbanda é uma Religião e tem fundamento.

Muitos poderiam rotulá-la como uma “seita” mas, vejamos... Segunda a abordagem sociológica a primeira definição de seita foi dada por Max Weber em 1912, em que seita é descrita como “grupos religiosos que se formam para protestar contra elementos de sua religião originária”. Bem, uma vez que a Umbanda nasceu formalmente em 1908, em solo brasileiro, mais especificamente na cidade do Rio de Janeiro, por meio do médium Zélio de Moraes, com toda sua estrutura ritualística própria e egrégora incomuns, distante de desejar “protestar” contra uma ou outra religião pré-existente, jamais poderia ou pode ser confundida com uma simples seita.

Outrora, alguns menos informados, também poderiam classificar a Umbanda como um mero “culto”. Ora, segundo a definição do Dicionário Online de Português (www.dicio.com.br), culto é a homenagem prestada ao que é considerado sagrado ou divino; a maneira através da qual uma divindade é adorada. Percebe-se então, que culto está mais ligado a forma, ao jeito, que um ou mais fiéis de determinada religião veneram o divino ou sagrado. Ou seja, o culto é parte de uma religião e não a religião em si.

E o que vem a ser uma religião, então? Segundo a Wikipédia (https://pt.wikipedia.org/wiki) a palavra religião vem do latim religare, literalmente significa religar-se ao divino, é muitas vezes usada como sinônimo de fé ou sistema de crença. A maioria das religiões têm comportamentos organizados, incluindo hierarquias clericais, uma definição do que constitui a adesão ou filiação, congregações, reuniões regulares ou serviços para fins de veneração ou adoração de uma divindade ou para a oração, lugares (naturais ou construídos) sagrados para seus praticantes. Enquanto algumas possuem suas escrituras outras se baseiam na oralidade. A prática de uma religião pode também incluir sermões, comemoração das atividades de um deus ou deuses, sacrifícios, festivais, festas, transe, iniciações, serviços funerários, serviços matrimoniais, meditação, música, arte, dança, além de outros aspectos religiosos da cultura humana.
Uma vez esclarecidos os conceitos, nota-se que uma crença para ser classificada como religião necessita de diversos elementos que fornecem uma estrutura mínima e certa complexidade responsáveis pela identidade e legitimidade da mesma. E é desta forma que a Umbanda se identifica como uma Religião legítima; pois, em sua real expressão verificam-se todos (talvez até mais alguns) dos aspectos acima mencionados.
O culto do umbandista em geral acontece dentro do chamado solo sagrado; um local preparado e construído para tal finalidade, que tradicionalmente, devido a sua história, é conhecido pelo nome de “terreiro”, mas que na verdade, hoje em dia, nada mais é do que um templo (salão ou centro umbandista) consagrado aos Orixás, seres
divinos que representam forças e elementos da natureza, cuja origem encontramos no continente africano.
Mas o que vem a ser a tal da “macumba”? Será a macumba um feitiço? Ou será magia? Mal-olhado? Desejar mal aos outros? Nada disso... Macumba é tão e somente o nome de um instrumento de percussão, parecido com um tambor pequeno, que era utilizado em alguns cultos e ou festejos realizados pelos negros no passado. Hoje esse termo tem uma conotação pejorativa usada como forma de discriminação e preconceito. Portanto, Umbanda não é macumba! Umbanda é uma religião brasileira, com origem africana e bases cristãs, com uma doutrina própria e independente, que pratica e prega única e exclusivamente o bem. O fundamento mais básico desta religião diz: “Umbanda é manifestação do espírito para a prática da caridade”. Qualquer coisa diferente disto não é Umbanda.
Práticas, atendimentos e pseudomanifestações, encontradas por aí a fora, em que não há uma doutrina a ser seguida e nem estrutura e disciplina epistemológica; em locais impróprios e despreparados, carentes de uma tradição religiosa e ou formação sacerdotal adequada; cobranças pecuniárias em troca de orientação ou ajuda espiritual, etc., não fazem parte da religião Umbanda. Pelo contrário, a prejudicam e maculam sua imagem. Estas crendices e seus adeptos se valem da Umbanda para tentar dar alguma legitimidade às suas práticas. Fato este corroborado pela falta de conhecimento e preconceito social.
Enfim, a Umbanda como religião, que tem como filosofia de vida o maior mandamento de Cristo: “Amar ao próximo como a si mesmo e Deus acima de todas as coisas”, respeita e reconhece todas as outras religiões existentes, por isso merece o mesmo respeito e reconhecimento. Axé!

Gustavo C. M. Souza, é bacharel em história pela USP e dirigente do Centro Espírita de Umbanda Ogum Sete Espadas
Para saber mais:
Livro - Umbanda não é macumba, autor Alexandre Cumino, Ed. Madras
Blog – www.ceudeogumseteespadas.blogspot.com
Contato: www.facebook.com/jorge.guerreira

Texto publicado no jornal "O Guaíra" em 14 de agosto de 2015.