Dando
continuidade a seqüencia de artigos sobre os principais Orixás do panteão
africano, abordaremos hoje o conhecido e muito querido senhor Oxossi. Assim
como Xangô e Ogum, este Orixá completa o trio dos grandes deuses ou santos guerreiros
mais populares no Brasil. Muitas pessoas, independente de pertencer ou não a
uma religião de matriz africana (Umbanda, Candomblé, Catimbó, etc.), já cantaram
ou ouviram falar de Oxossi. Seja através da música, onde encontramos, por
exemplo, na letra de uma das canções mais populares da história da MPB,
“Majestade O Sabiá”, composta por Roberta Miranda e eternizada na poderosa voz
de Jair Rodrigues e regravada diversas vezes por importantes artistas
brasileiros; ou por meio de outras formas de expressão da nossa cultura
nacional.
Oxossi
é o guardião das matas e florestas. Protetor dos animais e também de todos os
caçadores que dependem desta atividade para sobreviver, sempre respeitando a
presa e lutando pela preservação do meio ambiente. Ele próprio foi um caçador,
por isto seu instrumento é o Ofá (arco-e-flecha). O nome Oxossi vem do termo Yorubá
òsò wúsí, que significa "guardião feiticeiro", pois, segundo a
mitologia, Oxossi aprendeu a lidar com a magia das folhas, dos animais e da
natureza e também realizou uma grande proeza ao matar, com uma única flecha, o
pássaro-monstro que afligia o povo de Ketu, razão pela qual se tornou o rei e
soberano desta cidade.
Em
outras nações Oxossi, também é chamado de Odé, que vem do termo Yorubá odẹ,
que significa literalmente "o caçador". O eminente fotógrafo e
escritor francês Pierre Verger, em seu livro Orixás, diz que o culto a
Oxossi foi praticamente extinto na região de Ketu, na África, uma vez que a
maioria de seus sacerdotes foi escravizada, tendo sido enviados à força para o
Novo Mundo ou mortos. Aqueles que permaneceram em Ketu deixaram de cultuá-lo
por não se lembrarem mais como realizar os ritos apropriados ou por passarem a
cultuar outras divindades. Durante a diáspora negra, muitos escravos que cultuavam
Oxossi não sobreviveram aos rigores do tráfico negreiro e do cativeiro, mas,
ainda assim, o culto foi preservado no Brasil e em Cuba pelos sacerdotes
sobreviventes e Oxossi se transformou num dos Orixás mais populares, tanto no Candomblé,
quanto na Umbanda, onde é patrono da Linha dos Caboclos, uma das mais ativas da
religião.
Oxossi
ensina o equilíbrio ecológico e condena o aspecto predatório da relação do
homem com a Natureza. Atua nos campos da concentração, da determinação e
favorece a paciência necessária para a vida em liberdade. Ele é o regente da
lavoura e da Agricultura, responsável pela fartura nas colheitas. Devido ao seu
conhecimento profundo das folhas atua nos aspectos medicinais, espirituais e
ritualísticos das ervas de modo geral. Como no Brasil a figura mítica do
indígena habitante da floresta é bastante forte, a sua representação, por
vezes, aproxima-se mais do índio do que do negro africano. Eventualmente isto
explica seu apadrinhamento dos Guias de Luz da Linha dos Caboclos na Umbanda.
As
pessoas cujo Ori (cabeça) pertencem a este Orixá, normalmente são esbeltas,
ágeis e perspicazes; de curiosidade aguçada, inteligentes, intelectuais e
estudiosos, observadoras, buscam o desconhecido, são desbravadoras assim como
as filhas e filhos de Ogum. Também são pessoas honestas, desinteressadas,
altruístas e espontâneas. Por outro lado, são inconstantes, entediam-se
facilmente e não persistem, desistindo muitas vezes de seus projetos no meio do
caminho. Sonhadoras, às vezes vivem ilusões, têm dificuldades para guardar o
dinheiro que ganham e possuem certa tendência à preguiça.