Apesar de vivermos a chamada Era da Informação, num mundo cada vez mais populoso e globalizado em que não existem mais fronteiras geográficas e as noticias são instantâneas, a vida do ser humano atualmente é marcada por um profundo individualismo; talvez este, seja o maior paradoxo do século XXI.
Facilitar
ou melhorar a comunicação entre as pessoas é uma das intenções quando se busca a
inovação tecnológica. Novos meios, novas mídias, novas plataformas; diversos
aparelhos, cada vez menores e mais acessíveis etc., tudo isso faz parte da
revolução digital; até novas linguagens surgem conforme a rede social:
WhatsApp, Facebook, Twitter, dentre outras. Porém o grande desafio que se
coloca é a qualidade desta comunicação. Pois, apesar de se falarem mais, as
pessoas estão mais distantes. A fórmula: falta de tempo + velocidade + acesso
digital resultou numa aparente aproximação; ou seja, as pessoas estão distantes
umas das outras e se refugiam nesta falsa sensação de união. A aldeia global das
mídias sociais é tão superficial e carente de conteúdo de qualidade que,
somente na hora do “aperto” é que notamos o quanto estamos sozinhos e isolados.
Milhares de almas divagam perdidas num mundo de aparências; perturbados pela
busca do prazer sem limites e da lei do menor esforço. Este clima favorece o
menosprezo do corpo: pois se dá importância à estética em detrimento da saúde;
a preguiça mental: pois tudo com mais de duas linhas passou a ser “longo
demais” para ser lido; e, a pobreza de espírito: pois viver de acordo com uma
religião exige disciplina, coisa há muito tempo abandonada. A futilidade e a
gana por mais “curtição” passam a comandar a ausência de sentido da vida. Haja
vista, as quantidades absurdas de bebidas, cigarros e outras drogas consumidas
por um número cada vez maior de pessoas, independente da idade.
Vivemos
um momento em que não estamos “juntos”, mas sim “aglomerados”. Gente que se julga autossuficiente e que se
esqueceu da importância do diálogo frente a frente, do abraço fraterno, da
palavra ou gesto de carinho, da família como alicerce social, e,
principalmente, se esqueceu de Deus. São os “sinais dos tempos”, poderiam dizer
alguns. No entanto, digo, são sinais da ausência de Deus nas vidas das pessoas.
Na Umbanda não acreditamos na maldade como algo exterior, uma força que exista
por si só, independente do ser humano. A maldade existe onde Deus foi posto de
lado e as trevas são simplesmente a ausência de Luz. Neste sentido, em nosso
ritual utilizamos velas para materializar as intenções de dissipar as trevas e
resgatar o equilíbrio dos três aspectos do ser humano: corpo, mente e espírito.
A
Umbanda é uma religião que acredita e prega a lei do Karma (palavra que
significa “ação” que veio da antiga língua sagrada da Índia, o sânscrito), onde
para toda ação existe uma reação. Tudo que o indivíduo fizer (ou deixar de
fazer) hoje terá uma consequência amanhã, para cada efeito existe uma causa
correspondente. Por isso é necessário que as pessoas despertem para a
responsabilidade de seus atos e não se julguem como meras vítimas do destino.
Por isso chamamos o Karma de justiça celestial, em que não há
espaço para os conceitos de “culpa” e “castigo”, cada pessoa receberá de volta
o resultado de suas ações, como um mecanismo essencial para revelar a
importância dos comportamentos individuais e coletivos.
Obviamente
que o avanço tecnológico é algo positivo e necessário. Não há como negar o
futuro, a cada dia nossas vidas serão invadidas por novos aparatos e
descobertas numa velocidade estonteante que nos atropela e não dá o tempo
necessário para adaptação. Porém cabe a cada um de nós saber utilizar seus
benefícios e não permitir que certas facilidades nos deixem preguiçosos e
superficiais. Isso ajuda ainda a manter uma vida saudável, cuidar do corpo
físico, sem os excessos ditados pela estética da aparência que sabemos ser
passageira, enquanto a alma é eterna. Buscar a Deus ou uma religião, seja qual
for, é fundamental para não perdermos o rumo neste oceano incerto do futuro que
se apresenta. Ocupar a mente com o
sagrado é preencher de luz o espírito. É não dar espaço para a futilidade e
viver com disciplina, ética e bom caráter. Estes são valores que a Umbanda tem
a preocupação de disseminar em sociedade. Buscar um sentido para a vida, saber
que desempenhamos papéis e temos responsabilidades, que nossos atos refletirão
no amanhã. Libertar do ciclo vicioso do autojulgamento e do julgamento alheio,
deixar de ser aquele que corresponde às expectativas do “outro” e da sociedade
para sermos nós mesmos, descobrir quem somos nós. Trocar o “ter” pelo “ser”,
abandonar a “aparência” e buscar a “essência”. Axé!
Gustavo
C M Souza, é bacharel em História pela USP e dirigente do Centro Espírita de
Umbanda Ogum Sete Espadas
Para
saber mais:
Livro:
O Axé, nunca se quebra,Irinéia M. Franco dos Santos, Ed. Edufal
Contato: www.facebook.com/jorge.guerreira
Texto publicado no jornal "O Guaíra" de 16/9/2015.
Para ler e refletir sempre!
ResponderExcluirAxé!
Muito bom o Testo, realmente nos faz refletir sobre a globalização e suas consequências que são de largo alcance, afetando praticamente todos os aspectos do mundo social. deixamos de manusear e tocar no papel, nossas crianças são mais ciberneticistas os namoros deixaram de ter o romantismo do encontrar basta clicar e dizer um bom dia.......
ResponderExcluirPerfeito. Este artigo vai ao encontro, inclusive, ao nós, educadores e formadores, enfrentamos em sala de aula, ante a indolência e o imediatismo. Parabéns pelas colocações. Adorê Pai Benedito!
ResponderExcluirPerfeito. Este artigo vai ao encontro, inclusive, ao nós, educadores e formadores, enfrentamos em sala de aula, ante a indolência e o imediatismo. Parabéns pelas colocações. Adorê Pai Benedito!
ResponderExcluir