Quando
alguém resolve escrever ou falar de Umbanda assume a responsabilidade de
elucidar uma série de questões obscuras no pensamento da população leiga de
modo geral. A maioria, das pessoas que não a conhecem, associa seus adeptos e
simpatizantes à gente ignorante, sem cultura, fanática e fetichista. Neste
artigo vou abordar o mito, talvez o maior de todos, que equivocadamente se
criou a respeito dos famigerados e incompreendidos Exus.
Em
primeiro lugar volto a frisar que Umbanda é “a manifestação do espírito para a prática da caridade e do bem”
qualquer coisa diferente disto: não é Umbanda! Isto posto, podemos prosseguir
no conhecimento sobre quem são os Exus. Cujo nome, para muitos, não pode nem
ser pronunciado, pois, na linguagem popular Exu é “agente do mal”, “espírito
demoníaco”, que com seu tridente espalha maldades pelos terreiros onde “baixa”
e aceita “serviços escusos” em troca de bebidas, dinheiro ou favores...
Quanta
falta de conhecimento, quanta inversão de valores e quanto preconceito. Poderia
escrever um livro inteiro sobre as origens deste equívoco, porém, afim de não
extrapolar os limites deste artigo, podemos dizer, resumidamente, que este
mito, esta visão equivocada, surgiu exatamente por vivermos numa sociedade de
classes e racista. Hoje em dia, este preconceito é agravado pela intolerância
religiosa reforçada pela ignorância em seu sentido literal, etimológico: falta
de sabedoria e instrução sobre determinado tema, ou ainda à crença em elementos
falsos.
Para
facilitar o entendimento da figura de Exu, podemos fazer uma analogia da
Umbanda comparando-a a uma empresa de grande porte, com toda sua complexidade,
hierarquia e organograma. Onde cada setor seria responsável por um rol
específico de tarefas e atividades, mas, que, no entanto, se complementam como
partes de um todo, de acordo com os objetivos da corporação. Desde os sócios
majoritários, a diretoria, os altos executivos, até os funcionários da limpeza,
da copa, os seguranças, etc., todos são indispensáveis para o bom e correto
funcionamento da empresa. Da mesma forma, os Exus têm a sua função; eles
representam um dos “setores” dentro da religião. Ou seja, a cada Linha de
Trabalho – maneira pela qual dividimos os tipos de guias de luz que trabalham
nos terreiros – cabe uma responsabilidade; uma forma, um momento e um campo de
atuação próprios nos tratamentos espirituais dispensados às pessoas que buscam
auxílio na Umbanda.
Notem,
portanto, que Eles estão enquadrados, sim, como uma das Linhas de Trabalho, dentre
os chamados “guias de luz”. Enfim, não existe Exu das trevas ou sem iluminação
espiritual! Isso é mera desinformação. Infelizmente o que ocorre são as
pseudomanifestações ou as mistificações enganosas oriundas de pessoas sem
escrúpulos que usurpam o nome de Exu; charlatões interessados em obter dinheiro
fácil às custas do sofrimento e desamparo alheio. Estes, sim possuem seus
espíritos envoltos em trevas e um dia responderão por seus atos. Por outro lado
para um espírito de luz receber o título de Exu, dele é exigido disciplina,
ordem, respeito, estudo, sabedoria, honra, honestidade e acima de tudo “amor ao
próximo”. Todos os verdadeiros Exus
trabalham somente para o bem. E sempre atuam em conjunto com os demais mentores
da Umbanda, sejam eles Caboclos, Pretos-Velhos, Crianças, Baianos, Boiadeiros,
Marinheiros, Orixás, etc. Todas estas entidades são interdependentes nos
rituais de Umbanda. Elas se complementam, e formam uma única “equipe” (falange,
como chamamos) de soldados de Cristo na luta contra as mazelas vividas pelo ser
humano.
Os
Exus são os guardiões espirituais, são os protetores que nos socorrem nos
momentos de maior desespero e aflição. Na labuta pelo pão de cada dia, pela
integridade física e espiritual, são nossa defesa; mas, também, são forças que
atuam na nossa consciência, exigindo retidão no comportamento e atitude ética
de seus protegidos. São severos quando é necessária uma correção, mas complacentes
perante às suplicas, perante o sofrimento e a dor. O autor F. Rivas Neto
descreveu Exu como o “regulador
planetário, que atua nos aspectos emocionais, instintivos e nas demandas
energéticas, ele ainda neutraliza aqueles que se sintonizam com os planos mais
baixos (...) Exu pune, mas não age como mau, pois está apenas executando a Lei.
Por isso Exu não é bom nem mau, é Justo”
Existem
ainda muitas outras questões sobre Exu a serem abordadas. Aspectos históricos ligados
às etnias africanas que vieram para o Brasil e formaram o pano de fundo do
quadro sócio-religioso que se apresenta nos dias de hoje. Por exemplo, a
associação equivocada da imagem de Exu ao diabo, devido, principalmente a
simbologia fálica (sexual) de Exu, que nada tem a ver com o pecado cristão; mas
que, em verdade, representa simplesmente o culto à fertilidade tanto humana
quanto da terra a ser cultivada, pois disto dependiam os povos para sobreviver
na rusticidade do continente africano. Assunto para outro artigo... Salve Exu!
Laroiê! Mojubá! Axé!
Gustavo
C M Souza, é bacharel em História pela USP e dirigente do Centro Espírita de
Umbanda Ogum Sete Espadas
Para
saber mais:
Livro:
Exu, o Grande Arcano – F. Rivas
Neto, editora Ícone
Contato:
Texto publicado no Jornal "O Guaíra" de 10/09/2015
Perfeito! Clap Clap Clap Clap Clap!
ResponderExcluirUm grande abraço e muito axé!
Maravilhoso! Que as pessoas leiam sobre com o peito e a mente abertas.
ResponderExcluirMaravilhoso! Que as pessoas leiam sobre com o peito e a mente abertas.
ResponderExcluirMaravilhoso! Que as pessoas leiam sobre com o peito e a mente abertas.
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