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quinta-feira, 10 de setembro de 2015

EXU: mitos e verdades.




            Quando alguém resolve escrever ou falar de Umbanda assume a responsabilidade de elucidar uma série de questões obscuras no pensamento da população leiga de modo geral. A maioria, das pessoas que não a conhecem, associa seus adeptos e simpatizantes à gente ignorante, sem cultura, fanática e fetichista. Neste artigo vou abordar o mito, talvez o maior de todos, que equivocadamente se criou a respeito dos famigerados e incompreendidos Exus.

            Em primeiro lugar volto a frisar que Umbanda é “a manifestação do espírito para a prática da caridade e do bem” qualquer coisa diferente disto: não é Umbanda! Isto posto, podemos prosseguir no conhecimento sobre quem são os Exus. Cujo nome, para muitos, não pode nem ser pronunciado, pois, na linguagem popular Exu é “agente do mal”, “espírito demoníaco”, que com seu tridente espalha maldades pelos terreiros onde “baixa” e aceita “serviços escusos” em troca de bebidas, dinheiro ou favores...

            Quanta falta de conhecimento, quanta inversão de valores e quanto preconceito. Poderia escrever um livro inteiro sobre as origens deste equívoco, porém, afim de não extrapolar os limites deste artigo, podemos dizer, resumidamente, que este mito, esta visão equivocada, surgiu exatamente por vivermos numa sociedade de classes e racista. Hoje em dia, este preconceito é agravado pela intolerância religiosa reforçada pela ignorância em seu sentido literal, etimológico: falta de sabedoria e instrução sobre determinado tema, ou ainda à crença em elementos falsos.

            Para facilitar o entendimento da figura de Exu, podemos fazer uma analogia da Umbanda comparando-a a uma empresa de grande porte, com toda sua complexidade, hierarquia e organograma. Onde cada setor seria responsável por um rol específico de tarefas e atividades, mas, que, no entanto, se complementam como partes de um todo, de acordo com os objetivos da corporação. Desde os sócios majoritários, a diretoria, os altos executivos, até os funcionários da limpeza, da copa, os seguranças, etc., todos são indispensáveis para o bom e correto funcionamento da empresa. Da mesma forma, os Exus têm a sua função; eles representam um dos “setores” dentro da religião. Ou seja, a cada Linha de Trabalho – maneira pela qual dividimos os tipos de guias de luz que trabalham nos terreiros – cabe uma responsabilidade; uma forma, um momento e um campo de atuação próprios nos tratamentos espirituais dispensados às pessoas que buscam auxílio na Umbanda.


            Notem, portanto, que Eles estão enquadrados, sim, como uma das Linhas de Trabalho, dentre os chamados “guias de luz”. Enfim, não existe Exu das trevas ou sem iluminação espiritual! Isso é mera desinformação. Infelizmente o que ocorre são as pseudomanifestações ou as mistificações enganosas oriundas de pessoas sem escrúpulos que usurpam o nome de Exu; charlatões interessados em obter dinheiro fácil às custas do sofrimento e desamparo alheio. Estes, sim possuem seus espíritos envoltos em trevas e um dia responderão por seus atos. Por outro lado para um espírito de luz receber o título de Exu, dele é exigido disciplina, ordem, respeito, estudo, sabedoria, honra, honestidade e acima de tudo “amor ao próximo”.  Todos os verdadeiros Exus trabalham somente para o bem. E sempre atuam em conjunto com os demais mentores da Umbanda, sejam eles Caboclos, Pretos-Velhos, Crianças, Baianos, Boiadeiros, Marinheiros, Orixás, etc. Todas estas entidades são interdependentes nos rituais de Umbanda. Elas se complementam, e formam uma única “equipe” (falange, como chamamos) de soldados de Cristo na luta contra as mazelas vividas pelo ser humano.

            Os Exus são os guardiões espirituais, são os protetores que nos socorrem nos momentos de maior desespero e aflição. Na labuta pelo pão de cada dia, pela integridade física e espiritual, são nossa defesa; mas, também, são forças que atuam na nossa consciência, exigindo retidão no comportamento e atitude ética de seus protegidos. São severos quando é necessária uma correção, mas complacentes perante às suplicas, perante o sofrimento e a dor. O autor F. Rivas Neto descreveu Exu como o “regulador planetário, que atua nos aspectos emocionais, instintivos e nas demandas energéticas, ele ainda neutraliza aqueles que se sintonizam com os planos mais baixos (...) Exu pune, mas não age como mau, pois está apenas executando a Lei. Por isso Exu não é bom nem mau, é Justo
           

            Existem ainda muitas outras questões sobre Exu a serem abordadas. Aspectos históricos ligados às etnias africanas que vieram para o Brasil e formaram o pano de fundo do quadro sócio-religioso que se apresenta nos dias de hoje. Por exemplo, a associação equivocada da imagem de Exu ao diabo, devido, principalmente a simbologia fálica (sexual) de Exu, que nada tem a ver com o pecado cristão; mas que, em verdade, representa simplesmente o culto à fertilidade tanto humana quanto da terra a ser cultivada, pois disto dependiam os povos para sobreviver na rusticidade do continente africano. Assunto para outro artigo... Salve Exu! Laroiê! Mojubá! Axé!
           
Gustavo C M Souza, é bacharel em História pela USP e dirigente do Centro Espírita de Umbanda Ogum Sete Espadas

Para saber mais:

Livro: Exu, o Grande Arcano – F. Rivas Neto, editora Ícone


Contato:

www.facebook.com/jorge.guerreira

Texto publicado no Jornal "O Guaíra" de 10/09/2015

4 comentários:

  1. Perfeito! Clap Clap Clap Clap Clap!
    Um grande abraço e muito axé!

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  2. Maravilhoso! Que as pessoas leiam sobre com o peito e a mente abertas.

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  3. Maravilhoso! Que as pessoas leiam sobre com o peito e a mente abertas.

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  4. Maravilhoso! Que as pessoas leiam sobre com o peito e a mente abertas.

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