A Umbanda é uma religião de
matriz africana cuja doutrina está fundamentada nos ensinamentos cristãos do
amor ao próximo e da caridade espiritual; onde são cultuados os Orixás, seres
divinos que representam diretamente O Criador (Olorum, na língua Iorubá), que,
também, são determinantes de sua ritualística e filosofia de vida. Para
conhecer melhor o conceito de Orixá e seus arquétipos precisamos antes entender
o que é o sincretismo e como ele interferiu na formação das religiões de matriz
africana no Brasil.
Historicamente
é notória a forma brutal e desumana que os povos negros, nativos africanos,
foram seqüestrados de sua terra natal e trazidos para a América para trabalhar
como mão-de-obra escrava, principalmente, nas lavouras de cana de açúcar, café,
tabaco, algodão e também na mineração. Muitos outros ainda desempenhavam vários
tipos de serviços domésticos e urbanos. Estimativas indicam que, entre os
séculos XVI e XVIII, 7,4 milhões foram tirados da África com destino à América,
dos quais mais de 5,5 milhões vieram para o Brasil. Os negros foram essenciais
para a manutenção da economia durante o chamado período colonial.
Tanto
os indígenas quanto os escravos africanos foram elementos essenciais para a
formação não somente da população, mas também da cultura brasileira. A diversidade étnica
verificada no Brasil decorre do processo de miscigenação entre colonos europeus
(portugueses), indígenas e africanos. A cultura brasileira, por sua vez, apresenta
fortes traços tanto da cultura indígena americana quanto da cultura
africana. Desde a culinária,
onde se verificam a feijoada, vatapá,
o caruru e chegando até a língua portuguesa; é impossível não perceber a
influência da cultura dos povos que foram escravizados no Brasil.
Evidente
que, como parte da cultura de uma nação em formação, a crença e a religião
fazem parte deste caldeirão de misturas africanas, indígenas e européias. E aí
que entra o tal do sincretismo. Uma vez que o negro, subjugado sob domínio do
branco, era proibido de realizar qualquer ato pretensamente religioso ou
cultuar seus antigos deuses africanos, sob pena inclusive de morte, precisou se
adaptar ao sistema religioso dominante – o catolicismo – para manter um mínimo
de suas origens e tradições evitando, assim, a total destruição de sua fé
primordial.
A
principal expressão desse “adequamento” foi a sagacidade dos negros em fazer
paralelos de seus deuses africanos com os santos católicos mais comuns ou mais venerados
em terras brasileiras. Também adaptaram alguns rituais africanos à tradição
cristã: por exemplo, a incorporação da Lavagem do
Bonfim à cerimônia das Águas de Oxalá. Podiam, assim, manifestar
publicamente, ainda que de forma dissimulada, sua religiosidade africana. O
sincretismo religioso afro-brasileiro já foi retratado em várias obras da literatura,
música,
teatro
e artes plásticas brasileiras. Letristas como Dorival
Caymmi, Vinícius de Moraes e Jorge Ben Jor
retrataram o tema em diversas canções, enquanto Dias Gomes
levou-o para o teatro com a peça O Pagador de Promessas, que, mais tarde,
foi levada para o cinema conquistando uma Palma de Ouro
no Festival de Cannes e uma indicação ao prêmio Oscar
de melhor filme estrangeiro.
Nas
religiões afro-latino-americanas,
como é o caso da Umbanda, cada Orixá
corresponde a um santo católico, mas, de fato, não se trata de
um amálgama. As figuras não se confundem. Muitos dos santos Católicos são
cultuados também no candomblé e em outras religiões afro-latino-americanas. Os
escravos africanos criaram uma maneira criativa e inteligente de enganar os seus
senhores. Invocavam os seus deuses africanos sob a forma dos santos católicos: Oxóssi
na forma de São Sebastião, Ogum como São Jorge,
Oxalá
como Jesus Cristo,
Ibejis
como Cosme e Damião, Iansã
como Santa Bárbara, os fios de
contas dos guias de luz chamados de preto-velhos como Nossa Senhora do Rosário, entre outros.
Sincretismo é, portanto, a absorção de um sistema de crenças por outro. Isto ocorreu, também, quando o cristianismo absorveu e adaptou conceitos das religiões pagãs da Europa, moldando-os de acordo com os interesses da Igreja Católica numa tentativa de facilitar a propagação da religião cristã no continente europeu. Um exemplo clássico é a festa cristã do Natal, originalmente uma festa pagã que celebrava o solstício de inverno e o nascimento anual do Deus Sol, mas que a Igreja Católica transformou, no século III, na atual celebração do nascimento de Jesus Cristo com o objetivo estimular a conversão dos povos pagãos sob o domínio do Império Romano.
É
devido a esse sincretismo religioso que chegamos, então, ao conceito de Orixá,
desde sua origem africana até como é cultuado atualmente na Umbanda.
Etimologicamente a palavra “orixá” vem da junção de dois vocábulos da língua Iorubá:
ori,
cujo significado é “cabeça” e xá, traduzida normalmente como “rei”
ou “senhor”; logo “orixá” significa “rei ou dono da cabeça”, melhor dizendo: divindade que habita a cabeça. Ou seja,
cada filho de santo (crente adepto da Umbanda) possui seu Orixá, o dono de sua
cabeça. Cada Orixá relaciona-se a pontos específicos da natureza (florestas,
cachoeiras, rios, mares, montanhas, etc.), os quais são também pontos de força
de sua atuação, conforme seu elemento primordial correspondente: terra, ar,
fogo ou água. Portanto os Orixás são agentes divinos, verdadeiros ministros de
Divindade Suprema (Olorum), presentes nas mais diferentes culturas e tradições
espirituais e religiosas, cultuados de diversas formas e por diversos nomes.
Graças a Umbanda Sagrada é que, hoje, toda a humanidade pode: agradecer,
venerar e rogar a essas forças divinas, independente se vai chamá-la de Oxum ou
Nossa Senhora! Axé!
Gustavo
C M Souza, é bacharel em História pela USP e dirigente do Centro Espírita de
Umbanda Ogum Sete Espadas
Para
saber mais:
Livro:
Curso Essencial de Umbanda – Ademir Barbosa Júnior, editora Universo dos Livros
Contato:
Mais um ótimo artigo Pai Gustavo!
ResponderExcluirSimples e objetivo para aqueles que desconhecem.
Um grande abraço desse filho de santo e irmão de fé, de lei e de senda.
Axé sempre!
Axé!
ResponderExcluirAxé!
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