AGENDA 2020

GIRAS CANCELADAS DEVIDO A PANDEMIA

26/09 (Sáb) - 19h - Festa de Cosme e Damião

24/10 (Sáb) - 19h - GIRA DE PRETOS VELHOS

21/11 (Sáb) - 19h - GIRA DE BAIANOS

19/12 (19h) - GIRA DE EXUS

(senhas entregues das 18:45h às 19:00h)

terça-feira, 20 de outubro de 2015

As Ervas Sagradas de Umbanda

         
Umbanda é Natureza. É reconhecer, respeitar e venerar o divino em cada formação natural que o ser humano recebeu de presente no planeta Terra. E, como não poderia deixar de ser, os vegetais são, por excelência, a maior expressão deste amor.
Ancestrais do culto já diziam que “sem folhas não há Orixá”... Tamanha importância que as ervas sintetizam dentro da religião umbandista. Sua diversidade na natureza e as inúmeras formas de seu uso constituem a essência da riqueza ritualística nos processos terapêuticos de tratamento e cura do corpo e do espírito.
Dentre seus principais usos na liturgia destacamos os chamados “banhos” de ervas. Selecionadas e indicadas pelos Guias de Luz para cada fim específico. Cada planta ou espécie vegetal possui uma ou várias propriedades que, quando utilizadas da forma correta e sob o encantamento direcionado pelos agentes da Luz Divina (Pretos-Velhos, Caboclos, Exus, etc.) resultam em verdadeiros “milagres” no atendimento às pessoas de fé. Temos os seguintes exemplos dos principais banhos: na forma de Amacis – limpeza e energização ao lavar a cabeça dos médiuns; Banhos de Descarrego  –  retirada de cargas nocivas que ficam impregnadas no campo áurico do indivíduo; Banhos de Proteção – que fortalecem o espírito e impedem que outras forças atuem contra a pessoa; Banhos Energéticos – que renovam o AXÉ e atuam positivamente no corpo mental restabelecendo o equilíbrio.
Existem inúmeras maneiras de utilização das ervas sagradas na Umbanda. Desde a preparação das folhas, que começa já na colheita junto à Natureza, que deve obedecer preceitos básicos e algumas condições, dia e hora adequadas para ser realizada, até seu manuseio, que envolve diversas técnicas que potencializam seus efeitos – tisana, infusão, decocção e maceração – e, por fim, sua aplicação, seja no momento do ritual ou posteriormente conforme orientado. Tudo isso é realizado sempre sob a tutela e proteção dos Orixás; e o sacerdote responsável por esta atividade deve ter o preparo e conhecimento necessários para que os objetivos (intenção) sejam alcançados.
Isso porque as ervas detém grande quantidade de energia vital, o elemento vegetal, através de infinitas combinações, pode produzir determinados efeitos positivos ou negativos, como tudo o que é energia no universo. Possuem forte poder para atuar em nossa aura e em nosso campo energético, fato este já conhecido pelos indígenas e demais povos ancestrais que sempre as utilizaram para diversos fins. A Umbanda se vale deste conhecimento para desenvolver seus rituais, seus descarregos, curas ou fortalecimentos, tudo comandado pelas entidades espirituais que determinam o uso apropriado do elemento vegetal conforme o caso.

Outra finalidade das ervas é propiciar maior contato do médium com seus Orixás. No ritual do Amaci a lavagem da cabeça simboliza a união do filho com seu “pai de cabeça”, daí a expressão popularmente conhecida “filho de santo”. Pois representa, entre outros, o aspecto iniciático do crente na nova religião. É por meio das folhas específicas de cada Orixá que se dá o enlace da coroa do neófito (abiã) e seus guias e santos protetores.
Vale lembrar ainda que além dos usos individuais acima citados, temos o uso coletivo das ervas naturais em todo ritual em que a verdadeira Umbanda acontece, através da Defumação do ambiente e das pessoas durante os trabalhos (Giras). Em resumo a Defumação é uma limpeza energética, que pode ser realizada também em outras circunstâncias e ou ambientes como nossas residências, comércio e outros locais de trabalho, desde que com a correta orientação dos Guias de Luz ou do Babá (dirigente) do terreiro.

Enfim, os vegetais, representados por inúmeras ervas, folhas, cascas e raízes, são indispensáveis à Umbanda assim como à sustentação dos seres vivos. São importantes reservatórios do AXÉ das energias primárias oriundas dos quatro elementos planetários: ar, terra, água e fogo. Axé!

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

MUSICALIDADE DA UMBANDA



Já comentamos que a Umbanda é uma religião relativamente nova na forma que é praticada hoje, pois foi formalmente fundada em 1908, no Rio de Janeiro, pelo Caboclo Sete Encruzilhadas. Porém sabemos que as principais características do seu culto datam de séculos e séculos de tradições africanas. Uma destas tradições é a sua musicalidade ritualística.

            Sendo a Umbanda uma religião de matriz africana, é evidente que sua prática está repleta da cultura negra que chegou ao Brasil durante o período da escravidão. O tambor era tão, ou mais, importante do que outros utensílios que garantiam a sobrevivência dos povos. De modo geral, era um instrumento utilizado em diversas atividades, mesmo as “não-religiosas”. Cerimônias políticas, cívicas, festejos e principalmente as guerras, aconteciam sempre ao som do tambor. Inclusive este foi um dos motivos que levou à corte portuguesa proibir seu uso no período colonial, pois o som dos tambores era uma forma de reunir os negros escravizados e o medo dos senhores proprietários de escravos quanto a um levante contra a opressão escravista transformou o uso dos tambores em crime cuja pena era a morte.

            O Atabaque é o principal representante desta manifestação cultural e religiosa. Seu nome é de origem árabe (at-tabaq = prato) e há registros milenares de seu uso, inclusive no Antigo Testamento – Macabeus 9-39. Mas não se sabe ao certo quem inventou este que é tido como verdadeiro instrumento musical de percussão que “fala”. Seu som é condutor do AXÉ (energia vital dos Orixás), o couro e a madeira vibrando em conjunto com as palmas e as vozes dos crentes, formam os chamados Pontos Cantados, autênticas sinfonias sagradas sem partitura responsáveis pela harmonia dentro do terreiro e que auxiliam tanto nos processos mentais de indução mediúnica como também na dissipação de energias indesejáveis no ambiente.
           
            Conforme relata o sacerdote e estudioso Alexandre Cumino: “O som grave da percussão de couro, trabalha o nosso chacra básico e a energia da terra, o que ajuda o médium a sintonizar com uma força primordial e a relaxar a mente. Voltando-se a terra, a cabeça para um pouco de pensar e atrapalhar o processo mediúnico. Para cada momento do ritual há uma música ou um Ponto adequado a ser cantado e tocado.” Notamos aqui o quanto é importante a música sacra para se realizar Umbanda. Muito mais do que simplesmente embelezar ou enriquecer seu ritual, o canto e o ritmo constituem imprescindíveis fundamentos do culto aos Orixás. Não é por acaso que existe o ditado: umbandista não ora, canta! Realmente é por meio dos cantos que louvamos, agradecemos e pedimos ao Criador Supremo (Zambi), a seus Santos Orixás e aos Guias de Luz que atuam na espiritualidade. Felizes aqueles que podem presenciar o momento da Abertura dos Trabalhos em um Gira, onde são executados os principais Pontos cantados e tocados de Umbanda, verdadeiras orações que, devido a sua graça e singeleza, nos ensinam linda lições de vida e nos religam ao sagrado. Não é raro, irmãos, irmãs ou simpatizantes que frequentam os centros de Umbanda receberem suas graças ou sua “iluminação”, até mesmo uma cura espiritual ou física enquanto esses Pontos estão soando pelo ambiente.

           
             As pessoas responsáveis pelos toques dos atabaques e por “puxar” as letras e as melodias dos Pontos Cantados, recebem o nome de Ogãs. Também é considerada uma forma de mediunidade e sacerdócio dentro do terreiro. O grupo de Ogãs e seus diversos instrumentos musicais – além dos atabaques, utilizam-se o agogô, o pandeiro, o ganzá, o chocalho, o berimbau, etc. – recebem o nome de Curimba. Apesar de existir diferenças nos aspectos formais de um templo para outro, no jeito de se fazer a Curimba, ela é responsável, junto com o Babá (chefe espiritual do terreiro) pela manutenção da boa vibração e sustentação do AXÉ da corrente de médiuns e seus auxiliares desde o início até o fim dos trabalhos ritualísticos. Favorece ainda que os consulentes absorvam melhor as energias renovadoras do plano espiritual, dispersa os fluídos negativos, os miasmas e contribui para que todos fiquem focados nos trabalhos.

Entendemos, portanto, que a afinidade musical da Umbanda é, além de histórica, sagrada. Ou seja, o som, o ritmo e a música correm nas veias do chamado Povo do Axé graças às suas origens africanas e também à maneira de se cultuar os Orixás. Axé!



Gustavo C M Souza, é bacharel em História pela USP e dirigente do Centro Espírita de Umbanda Ogum Sete Espadas

Para saber mais:

Livro: ABC do Ogã, o valor da Curimba na Umbanda – Severino Sena, editora Madras


Contato:

www.facebook.com/jorge.guerreira