Segundo
a mitologia africana, da união de Oxalá e Iemanjá, nasceu Xangô, o filho dileto
dos Orixás primevos. Guerreiro de grande valentia, destacou-se como
conquistador de terras, dominando inclusive o importante país de Óio, onde foi
proclamado rei. Além de rei de Óio, chegou a ser chamado de rei de toda a
áfrica, recebendo depois de morte os títulos de deus do meteorito, deus do raio
e do trovão.
Notamos aqui o tamanho da importância deste Orixá no panteão religioso e cultural das crenças e religiões originárias do povo negro. Historicamente há uma mescla entre mitologia e realidade, estudiosos discutem, ainda hoje, até onde as lendas em torno do nome de Xangô são apenas de origem sagrada e religiosa ou, também, de origem histórica, uma vez que se tem registros de diversos monarcas e imperadores reais que deixaram sua marca na antiguidade do continente africano e suas façanhas são contadas e divinizadas como se fossem do próprio Orixá.
Conhecido por sua virilidade, imponência e
senso de justiça. Castiga os malfeitores e mentirosos, e é impiedoso com os
traidores. Senhor da verdade, protege especialmente as pessoas de meia-idade,
constituindo-se num dos deuses mais fortes e misteriosos dos cultos afro-brasileiros.
Tanto é que, em algumas regiões do país (Rio Grande Sul e Maranhão), Xangô é o
próprio nome da religião em si; assim como Candomblé, Catimbó e Umbanda.
No
sincretismo é identificado, normalmente, como São Jerônimo. Talvez pelo aspecto
da sabedoria representado por este santo católico, o tradutor da bíblia, que,
para tal fim, se retirou em isolamento nas montanhas, pontos de força natural
deste Orixá. Mas, também, tem similitude com São João Batista, chamado de Xangô
Kaô. Em algumas Casas de Axé pode ser encontrado, ainda, no culto a Santo
Antônio, São José ou São Pedro. Por
isso os festejos juninos são indiretamente outra forma de reverenciar o deus do
Trovão.
Culturalmente,
Xangô é muito divulgado tanto em nosso país, quanto no exterior. Por meio de
artistas brasileiros, da literatura, da pintura e da música. O maestro Vila
Lobos, de renome internacional, incluiu em seus temas uma composição para Coro
Misto de cinco vozes à Capela, apresentada pela primeira vez em junho de 1934,
no Rio de Janeiro, sob regência do próprio compositor, intitulada “Xangô”.
Aroeira |
Quando se manifesta nos terreiros, a
irradiação sobre seus filhos de santo é sempre muito forte e sonora como o
trovão. Normalmente o médium abre os braços acima da cabeça como se estivessem
recebendo a energia de um relâmpago e depois cruza os braços em sinal de ordem.
Seu instrumento sagrado é o Oxé, machado de duas asas com o qual, segundo a
lenda, lança seus meteoritos. Sua expressão oral é um brado vibrante que revela
sua autoridade e seu protesto contra a injustiça sofrida pelos que a Ele
recorrem. Seu dia da semana é a quarta-feira, sua cor é o marrom, suas
principais ervas são o manjericão roxo e a guiné. Suas árvores sagradas são a
mangueira, o limoeiro e a aroeira; seu elemento primordial é o fogo.
As
pessoas cujo Ori (cabeça) são regidas por este Orixá possuem temperamento
equilibrado, são metódicos, não tomam decisões rápidas, gostam de pensar o
suficiente sobre todos os ângulos das questões a serem resolvidas; são capazes
de grandes sacrifícios, mas se aborrecem facilmente quando as coisas não saem
conforme o planejado; são acomodados, sofrem muito em fases de mudanças, sejam
elas profissionais, familiares ou amorosas; extremamente honestos, honrados e
precisos em suas opiniões. Abominam surpresas, preferem tudo bem estudado com
antecedência, são detalhistas. Voluntariosos, rígidos e odeiam ser
contrariados. Apresentam tendência à obesidade e à calvície, são robustos e
imponentes. Por vezes são orgulhosos, prepotentes e muito teimosos. São líderes
natos, se dão muito bem em política, direito e nas áreas da comunicação. Todos
que necessitam resolver alguma questão na justiça devem recorrer a este Orixá.
E para reverenciá-lo, saudamos dizendo: “Kaô Kabecilê”! Salve Nosso Pai Xangô!
Axé!