AGENDA 2020

GIRAS CANCELADAS DEVIDO A PANDEMIA

26/09 (Sáb) - 19h - Festa de Cosme e Damião

24/10 (Sáb) - 19h - GIRA DE PRETOS VELHOS

21/11 (Sáb) - 19h - GIRA DE BAIANOS

19/12 (19h) - GIRA DE EXUS

(senhas entregues das 18:45h às 19:00h)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Xangô – O Rei dos Orixás

     
 Xangô é o Orixá da Justiça, e seu campo de atuação é preferencialmente a Razão. Despertando nos seres o senso de equilíbrio e isonomia. Promove a conscientização e desperta as pessoas para os reais valores da vida; em que a evolução espiritual se processa num fluir contínuo.

            Segundo a mitologia africana, da união de Oxalá e Iemanjá, nasceu Xangô, o filho dileto dos Orixás primevos. Guerreiro de grande valentia, destacou-se como conquistador de terras, dominando inclusive o importante país de Óio, onde foi proclamado rei. Além de rei de Óio, chegou a ser chamado de rei de toda a áfrica, recebendo depois de morte os títulos de deus do meteorito, deus do raio e do trovão.

       

     Notamos aqui o tamanho da importância deste Orixá no panteão religioso e cultural das crenças e religiões originárias do povo negro. Historicamente há uma mescla entre mitologia e realidade, estudiosos discutem, ainda hoje, até onde as lendas em torno do nome de Xangô são apenas de origem sagrada e religiosa ou, também, de origem histórica, uma vez que se tem registros de diversos monarcas e imperadores reais que deixaram sua marca na antiguidade do continente africano e suas façanhas são contadas e divinizadas como se fossem do próprio Orixá.

             Conhecido por sua virilidade, imponência e senso de justiça. Castiga os malfeitores e mentirosos, e é impiedoso com os traidores. Senhor da verdade, protege especialmente as pessoas de meia-idade, constituindo-se num dos deuses mais fortes e misteriosos dos cultos afro-brasileiros. Tanto é que, em algumas regiões do país (Rio Grande Sul e Maranhão), Xangô é o próprio nome da religião em si; assim como Candomblé, Catimbó e Umbanda.

            No sincretismo é identificado, normalmente, como São Jerônimo. Talvez pelo aspecto da sabedoria representado por este santo católico, o tradutor da bíblia, que, para tal fim, se retirou em isolamento nas montanhas, pontos de força natural deste Orixá. Mas, também, tem similitude com São João Batista, chamado de Xangô Kaô. Em algumas Casas de Axé pode ser encontrado, ainda, no culto a Santo Antônio, São José ou São Pedro. Por isso os festejos juninos são indiretamente outra forma de reverenciar o deus do Trovão.


           
  Culturalmente, Xangô é muito divulgado tanto em nosso país, quanto no exterior. Por meio de artistas brasileiros, da literatura, da pintura e da música. O maestro Vila Lobos, de renome internacional, incluiu em seus temas uma composição para Coro Misto de cinco vozes à Capela, apresentada pela primeira vez em junho de 1934, no Rio de Janeiro, sob regência do próprio compositor, intitulada “Xangô”.

Aroeira
             Quando se manifesta nos terreiros, a irradiação sobre seus filhos de santo é sempre muito forte e sonora como o trovão. Normalmente o médium abre os braços acima da cabeça como se estivessem recebendo a energia de um relâmpago e depois cruza os braços em sinal de ordem. Seu instrumento sagrado é o Oxé, machado de duas asas com o qual, segundo a lenda, lança seus meteoritos. Sua expressão oral é um brado vibrante que revela sua autoridade e seu protesto contra a injustiça sofrida pelos que a Ele recorrem. Seu dia da semana é a quarta-feira, sua cor é o marrom, suas principais ervas são o manjericão roxo e a guiné. Suas árvores sagradas são a mangueira, o limoeiro e a aroeira; seu elemento primordial é o fogo.


            As pessoas cujo Ori (cabeça) são regidas por este Orixá possuem temperamento equilibrado, são metódicos, não tomam decisões rápidas, gostam de pensar o suficiente sobre todos os ângulos das questões a serem resolvidas; são capazes de grandes sacrifícios, mas se aborrecem facilmente quando as coisas não saem conforme o planejado; são acomodados, sofrem muito em fases de mudanças, sejam elas profissionais, familiares ou amorosas; extremamente honestos, honrados e precisos em suas opiniões. Abominam surpresas, preferem tudo bem estudado com antecedência, são detalhistas. Voluntariosos, rígidos e odeiam ser contrariados. Apresentam tendência à obesidade e à calvície, são robustos e imponentes. Por vezes são orgulhosos, prepotentes e muito teimosos. São líderes natos, se dão muito bem em política, direito e nas áreas da comunicação. Todos que necessitam resolver alguma questão na justiça devem recorrer a este Orixá. E para reverenciá-lo, saudamos dizendo: “Kaô Kabecilê”! Salve Nosso Pai Xangô! Axé! 

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Oxum – Rainha das Águas Doces

  

             Todos os anos, em 12 de outubro há muitas comemorações e homenagens à Padroeira do Brasil - Nossa Senhora Aparecida; também é dia de festas para os Umbandistas, que homenageiam Mamãe Oxum. Ela simboliza o amor, a união e o casamento. Seu elemento é a água doce, símbolo universal da riqueza e prosperidade, e está presente nos rios, lagos, fontes, cachoeiras e regatos.

            Ialodê – dama ou lady, pelas etnias Iorubás. Oxum é, por excelência, a representação do ideal feminino. Inclusive a menstruação e a maternidade são aspectos fundamentais de seu arquétipo.
Se existe um Orixá representante da feminilidade, certamente é Oxum. Chamada também de

            Ligada ao Rio Oxogbó, na região de Ijexá (Nigéria), é a Senhora das águas doces e cristalinas, podendo, em algumas situações muito especiais, ter sua vibração em pontos da Natureza à beira mar. Sendo a Senhora da Fertilidade é muito solicitada também pelos agricultores a fim de favorecer uma boa colheita. Seu Axé é fixado na terra depois das cheias dos rios e lagos, permitindo assim, a germinação das sementes das futuras plantas que garantirão a sobrevivência da espécie humana. Talvez seja este o motivo pelo qual Oxum é, há séculos, um dos Orixás mais venerados no panteão dos santos africanos. E claro, sincretizada com Nossa Senhora Aparecida não só por esta santa católica ser uma Virgem Negra, mas, principalmente, por ter sido encontrada nas águas doces do Rio Paraíba em 1717.



 

            Pedidos de oração para fartura e prosperidade são em geral feitos para Oxum. Ela protege as mães e as crianças, inclusive uma de suas qualidades conhecida como Oxum Abalô é sincretizada com Nossa Senhora do Bom Parto, uma vez que é ligada aos Ibejis – santos gêmeos; gosta de crianças, propicia filhos, ajuda casais com dificuldades para engravidar, protege as gestantes e favorece um bom parto; cuidando de nutrir, zelar e proteger todos que necessitam dela.

            Está sempre preocupada com o conforto das pessoas que as cercam, querendo atender suas necessidades. As boas maneiras, a sensibilidade e a compaixão são seus atributos, já que é muito dedicada ao próximo. Ela estimula a união matrimonial; favorece a conquista da riqueza espiritual e a abundância material. Atua na vida dos seres estimulando em cada um os sentimentos de amor, fraternidade e união.

            Outro atributo Seu é o domínio das artes, música e dança, por isto a Curimba – orquestra de atabaques e percussão dos terreiros – é sempre protegida por este Orixá. Conta a lenda que Oxum usou de seus encantos para ludibriar Exu e assim aprender os segredos dos búzios, de forma que quando alguém consultar este oráculo africano, estará sob a influência de Mamãe Oxum.

            São muitos os filhos e filhas de Oxum espalhados no Brasil, eventualmente são a maioria nos terreiros de Umbanda. Suas principais características são: pessoas elegantes e charmosas; bastante vaidosas; atenciosas e trabalhadoras; são espertas e possuem um “quê doce” no olhar; são afetivas e carismáticas; profissionalmente são dedicadas e sensatas; amam com sinceridade e possuem uma persistência incrível. Por outro lado, podem ser chantagistas, de choro fácil, dramáticas e, vez ou outra, gostam de se fazer de vítimas para ter a piedade alheia; quando implicam com alguém são matreiras e debochadas; são possessivas; muito ciumentas; exigentes, chegam a ser autoritárias e adoram criticar. Fazem questão de receber atenção, odeiam quando são ignoradas e gostam de estar sempre em evidência.


            Todas as profissões ligadas a moda e artes em geral são protegidas de Oxum. Também as atividades educacionais, principalmente as relacionadas ao ensino infantil. Atua no campo das idéias (mental, intelectual) em todos os ramos em que é necessária a “inspiração” para criar coisas novas ou encontrar soluções que melhorem resultados empresariais ou comerciais. Seu dia da semana é o sábado, a cor predominante é o dourado, seus principais instrumentos são os búzios, o leque e o espelho. Suas ervas são o manjericão e a melissa. Devemos ofertar velas e rosas amarelas para Oxum. E, para saudar e pedir a proteção da Rainha das Águas Doces, dizemos: “Ora Iê Iê ô”. Axé!  

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Iansã - A Senhora dos Ventos

               
                  Oyá ou Iansã é a deusa do Rio Níger na África, segundo a lenda seria o próprio rio que garante a sobrevivência de inúmeras etnias ao longo de suas margens. Orixá dos ventos e tempestades possui um caráter temperamental e autoritário; por outro lado, é a responsável pela condução da energia vital no planeta.

           
          Ao contrário do que muitos podem imaginar, devido a sua impetuosidade, Iansã atua principalmente no campo emocional dos filhos de Umbanda. É aplicadora da Lei, assim como Ogum, na vida dos seres humanos, particularmente daqueles que vivem um estágio transitório da evolução kármica, pois “esgota” os vícios emocionais e redireciona seus protegidos, abrindo-lhes novos campos por onde evoluirão de forma menos “emotiva”. Por esta razão os filhos deste Orixá são, normalmente, um tanto sisudos e fechados. Aparentam agir mais pela razão e raciocínio lógico, chegam a ser considerados pessoas frias, calculistas ou indiferentes quando, na verdade, são tão passionais quanto quaisquer outras. Às vezes se evolvem demais com determinada situação, são profundos, gostam de discutir os mínimos detalhes e, por muito pouco se melindram.
            Na mitologia africana Iansã foi uma das esposas de Xangô, sendo, assim como seu consorte, também um Orixá que trabalha na Linha da Justiça, defendendo as causas daqueles que têm o devido merecimento perante Zambi, o Supremo Criador. É considerada a representante feminina nas batalhas; a guerreira nata, não mede esforços para vencer uma disputa ou algum obstáculo em seu caminho. Muito solicitada pelos crentes em momentos de agonia e desespero. Auxiliadora nas recuperações de pessoas e famílias que sofreram uma grande perda ou sobreviveram a uma catástrofe ou trauma. Seu elemento primordial é o “ar”. Com seus ventos indomáveis varre todo o mal; com seus raios e coriscos espanta os malfeitores e as cargas nocivas; com as águas tempestuosas das chuvas, limpa e descarrega tudo que é negativo. Eventualmente seja por isto que é sincretizada com Santa Bárbara, a mártir católica do século III. E sua data comemorativa também é 04 de dezembro.


            Iansã é renovadora. Suporta bem e tem facilidade nas mudanças, seja no aspecto profissional ou afetivo. Assim como os ventos, jamais um filho ou uma filha de Iansã se acomoda. E dificilmente residirá sempre na mesma casa ou cidade; ou trabalhará num mesmo emprego ou atividade por toda sua vida... São pessoas independentes e fazem questão de manter o próprio sustento. Gostam de manter fortes relações amorosas e familiares, porém nunca abrem mão de sua liberdade.

           
           Sua manifestação, quando incorporada no médium (filho de santo), é sempre muito forte, dança velozmente e faz rodopios como um redemoinho e seus gestos lembram uma luta com espadas. Estes movimentos desfazem os miasmas espirituais do ambiente e revitaliza o Axé de todos os presentes no terreiro. Utiliza pano da costa, nas cores vermelho e branco, com predomínio do vermelho vivo. Chifres de búfalo na cintura e nas mãos e um alfanje (espada) representando seu aspecto guerreiro. Possui ainda o Eruexin, uma espécie de espanador feito de pelos de rabo de boi ou de cavalo. Com este instrumento em particular, Iansã domina as almas rebeldes de desencarnados (Eguns), acalmando-os e direcionando-os aos locais de recuperação e aprendizado.

                         
                 Sua saudação é Eparrêi Oyá. Seu dia da semana é a quarta-feira, porém muitas Casas de Axé a cultuam aos sábados, dia de todas as Yabás – Orixás femininos. As velas na cor laranja são as preferidas de Iansã; suas principais ervas são a arruda, a alfazema e a cavalinha. O bambuzal representa a vibração e ponto da Natureza deste Orixá. Local, por excelência, utilizado nos cultos de Nação (Candomblé) para reverenciar e equilibrar as emoções de todos que buscam as bênçãos de Iansã.


            Que a Senhora dos Ventos proteja e auxilie todos a superar os momentos tempestuosos na vida. Eparrei Oyá! Axé! 

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

OBALUAIÊ, Orixá da Transformação!

           


Obaluaiê é o Orixá que atua na Evolução. Seu campo preferencial é aquele que sinaliza as mudanças de um nível vibratório ou estágio da Evolução para outro. É o Orixá das “passagens”: aprendizado, iluminação, reencarnação e desencarnação.

            Dando seqüência a serie de artigos sobre os Orixás e aproveitando a proximidade de sua data comemorativa (02 de novembro), vamos falar hoje sobre o misterioso Senhor Obaluaiê, Orixá muito cultuado em solo brasileiro, porém bastante temido, mais pelo desconhecimento do que pelas reais forças que o representam.

       
     Chamado por muitos de “Orixá da morte”, Obaluaiê é na verdade um renascido. Na mitologia africana Ele foi abandonado e rejeitado por sua genitora quando ainda bebê, devido a sua horrível aparência causada por doenças que deformam a pele. Foi lançado ao mar para morrer... Porém, a Senhora dos Oceanos acolheu-o em seus braços. Mamãe Iemanjá, com seu amor e paciência, curou as feridas daquela criança que, com o tempo, aprendeu todos os segredos das doenças e da cura. Já crescido, bonito e forte Obaluaiê se revelou aos outros Orixás, tamanha era sua força e seu conhecimento sobre a vida e a morte que passou a ser respeitado e venerado dentro do panteão de santos africanos.

            Talvez seja por isso que Ele é sincretizado com São Lázaro dos católicos, o santo ressuscitado. Na sua forma de velho, conhecida como Omulú, é São Roque. Protetor da medicina e de todos que atuam na área da saúde, Obaluaiê é sempre requisitado nos casos de doença. Também é o responsável pelas passagens da alma; tanto na reencarnação, quando estabelece o cordão energético que une o espírito ao corpo (feto) que será recebido no útero materno assim que alcança o desenvolvimento celular básico dos órgãos físicos e promove a redução do corpo plasmático do espírito até que fique do tamanho do corpo carnal alojado no ventre da mãe, deixando tudo pronto para o nascimento da nova criança no plano terrestre; como também Obaluaiê atua na desencarnação dos espíritos, promovendo a readaptação da alma ao plano espiritual e direcionando cada um conforme seu destino e merecimento determinados pela Lei do Karma. Por este motivo todos os cemitérios – kalunga pequena, como são chamados na Umbanda – são locais por excelência de Omulú. Ao adentrar um cemitério todos devem pedir licença dizendo: Atotô Obaluaiê!

São Lázaro
           
            Nos terreiros se manifesta coberto com palha da costa, para esconder suas marcas de nascença. Seu dia da semana é a segunda-feira, suas cores são o preto e o branco intercalados. Conhecido como médico dos pobres, é o Orixá da misericórdia dos enfermos.  Seu instrumento é o Xaxará (feixe de piaçavas e um maço de palha da costa, enfeitado com búzios). Com ele afasta as enfermidades e trás a cura. Auxilia os profissionais da saúde nos tratamentos e no alívio das dores dos pacientes. Guardião das almas atua intensamente nos locais da pré e pós-morte, tais como hospitais, necrotérios e outros, a fim de proteger os recém desencarnados durante sua passagem e adaptação a nova condição espiritual. Por este motivo devemos sempre rezar a Obaluaiê e pedir luz para os parentes e amigos falecidos recentemente. Seu elemento primordial é a terra. Suas principais ervas são a alfavaca, o cabelo de milho, o cravo da índia, a hera e a barba de velho, dentre outras.


         
  
Oração a Obaluaiê
Os filhos de Omulú – pessoas cuja coroa ou cabeça é regida por este Orixá – costumam ter o seguinte perfil psicológico: são atarracados, um tanto “desajeitados” no trato social e nas relações interpessoais. Pouco espontâneos, pensam muito antes de se expressar. São sisudos e desconfiados, adaptam-se a situações estáveis e são fiéis a causa que abraçam. Inflexíveis e muito persistentes. Podem ser fechados, tímidos e têm certa dificuldade na conquista amorosa. Possuem uma tendência ao pessimismo, são solitários e chegam a gostar disto. Melancólicos, podendo ser amargos em algumas situações. Em contrapartida, são determinados, sempre prontos a ajudar alguém doente ou com alguma deficiência. Resistentes e capazes de grandes esforços. Muitas vezes sofrem em silêncio a fim de alcançar um objetivo. Enfim, todas as almas do planeta são regidas por Obaluaiê, principalmente naqueles momentos de mudança e passagem espiritual. Por isso devemos respeitar e agradecer ao Senhor da transformação: salve Pai Obaluaiê, salve Senhor Omulú, atotô! Axé!

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Ogum, o desbravador...

   Ogum é o Orixá da Lei e seu campo de atuação é a linha divisória entre a razão e a emoção. É o Trono Regente das milícias celestes, guardiãs dos procedimentos dos seres encarnados e desencarnados em todos os sentidos.
   Após dez artigos sobre os fundamentos da Umbanda - todos publicados neste espaço - em que introduzimos conceitos básicos a respeito da religião, temos condições de começar a aprofundar um pouquinho nos conhecimentos considerados “velados” para o publico leigo. Desta forma, iniciaremos hoje uma série de artigos específicos de cada Orixá; em que o leitor passará a verticalizar informações sobre cada um dos principais santos africanos cultuados na Umbanda. E, para abrir esta série, escolhemos o Orixá considerado o Desbravador, Aquele que vai a frente “abrindo os caminhos” para os demais, seu nome é Ogum!
   Ele é o senhor da Lei e da ordem. Rege todos os procedimentos terrenos e astrais, é o “organizador”. Se fizermos um paralelo à hierarquia e domínios do poder, podemos entender Ogum como sendo o general, aquele que executa e faz cumprir; seu melhor soldado seria Exu, o capitão; enquanto Xangô seria o regente, que faz as leis e é responsável pela justiça.
   Por isso Ogum é o Orixá da guerra, é o guerreiro por excelência; dono das artes manuais e do ferro; é o patrono do desenvolvimento e da tecnologia. Protetor daqueles que trabalham com o ferro, com máquinas e coisas afins. Ogum é o inventor das ferramentas de ferro forjado (enxada, arado, pá, martelo, bigorna, etc.) e depois de criá-las, ensinou o trabalho ao ser humano, por isso é protetor da agricultura e de todas atividades laborais ligadas à sobrevivência do homem. Ele é invocado para resolver problemas de trabalho e ajuda a superar as dificuldades no estudo e desenvolvimento profissional. Pelo caráter guerreiro, é o patrono dos militares. Muito solicitado quando se deseja vencer demandas materiais e espirituais. Sempre vigilante, marcial e pronto para agir onde lhe for ordenado. É desbravador de caminhos, foi o primeiro Orixá a passar, enviado direto de Oxalá, abriu novos caminhos com seu facão e, com sua lança, conquistou novos mundos.
   No sincretismo, é cultuado como São Jorge – o santo guerreiro. Seu dia é 23 de abril. O elemento primordial de Ogum é o “ar”, sua vibração e sua manifestação trazem sempre a força eólica do Axé. Seu gestual representa a luta com espada ou lança. Seus filhos – crentes de Umbanda, cuja cabeça pertence a Ogum – são cobrados diariamente por esse comportamento de retidão, ordem e disciplina. E, aqueles que não atuam conforme determina este Orixá, vivem constantemente com dificuldades e contratempos. Normalmente os filhos de Ogum possuem as seguintes características positivas: são valentes, destemidos, buscam novos objetivos, novos desafios, dificilmente se acomodam, são pessoas perspicazes, práticas e corajosas; são dedicados
ao bem estar da família, geralmente bonitos fisicamente, talentosos e inteligentes. Como características negativas as pessoas protegidas por Ogum normalmente são gananciosas, atrevidas, se valem, as vezes, até da falsidade para atingir um objetivo, são temperamentais e impiedosos.
   No culto propriamente dito, Ogum é reverenciado para a proteção da casa ou do terreiro. Quando se trata de uma Gira, normalmente é o primeiro Orixá a se manifestar. Sua cor é o vermelho vivo, seu dia da semana é terça-feira, seus pontos de energia na Natureza são os caminhos retos, trilhos de trem, estradas sem curvas e sem encruzilhadas; as praias e, em algumas nações, os cemitérios. Seus instrumentos são todas as ferramentas de ferro, o facão é sua principal expressão. Sua árvore sagrada é o Akokô, cuja folha trás prosperidade e nunca deixa faltar o sustento material. Suas ervas são: espada de São Jorge, arruda, inhame e folhas de eucalipto. Dentre outros, o abacate, a goiaba, e o marmelo são frutos de Ogum. Seus animais são o cavalo, o boi, o cachorro e a cobra. Sua saudação é “Ogunhê”!
   Ogum está sempre pronto para socorrer todos que estão passando por mudanças em suas vidas. Uma nova jornada profissional, uma prova, um concurso, abrir um novo negócio, uma nova empresa, ou mesmo uma mudança de residência ou cidade, são momentos ideais para se pedir a proteção e rezar para Ogum. Orixá da força, da energia e dos caminhos iluminados. Que Ogum nos proteja sempre, Ogunhê! Axé!

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Os Pontos Sagrados da Natureza e os Orixás

            A Natureza, para nós, umbandistas, é a “materialização” sagrada dos Orixás no planeta. Assim, localizamos nesses sítios vibracionais, dos reinos vegetal e mineral, os principais locais onde os Orixás se fazem templos vivos construídos por Deus, no mar, na praia, no rio, na cachoeira, na montanha e na mata.
           
O mar é movimento constante, um eterno pulsar, que vibra nas marés e tem forte influência do magnetismo lunar. Seu incessante vai e vem é o próprio batimento “cardíaco” da vida, uma espécie de hemodiálise planetária, com sua expansão e contração, cheia e vazante, eivada de correntes marítimas como se fosse a circulação sanguínea vitalizadora de um órgão vivo, levando tudo que é negativo, transformando-o e devolvendo-o convertido em positivo. Seu próprio som expressa essa possante e magnífica transformação. A praia tem praticamente a mesma composição do mar, sendo condensadora, plasmadora, fertilizante e propiciatória à descarga de energias deletérias. Faz um potente equilíbrio elétrico no interior das células, e o ato de andar descalço em suas areias é potente harmonizador de todos os chacras, desimpregnando, transmutando excessos fluídicos e promovendo o equilíbrio da energia do indivíduo. O domínio das águas salgadas pertence a Yemanjá, a Senhora dos oceanos.

           
O rio é desagregador de energias pesadas e, ao mesmo tempo, condutor delas para o fundo do seu leito, fazendo-as se desmanchar na terra. Logo é fluente, sem ser condensador, fazendo as energias fluírem, e também vitalizante, por suas águas corridas e limpas que nos chegam ao mergulharmos nelas. Não por acaso, Jesus foi batizado no Rio Jordão e, em muitos locais, temos registros de certos rios serem considerados sagrados. Tem serventia para a purificação etereoastrofísica do indivíduo e na eliminação de cargas negativas. Os domínios dos rios são divididos entre Yansã, Obá, Oiá nas áreas de correnteza forte e veloz; enquanto Oxum domina as águas lentas e calmas; já o barro ou lama existente nos leitos dos rios e córregos é a manifestação da Senhora Nanã.

           
Na cachoeira, encontramos elementos coesivos das pedras (mineral) e água potencializada na queda, ou seja, de baixo para cima, que produzem ou conduzem várias formas de energia eólica, solar e hídrica conjugadas. Como as águas fluem num só sentido “batendo” nas pedras, absorvem forte magnetismo mineral, purificando, descarregando, vitalizando, equilibrando e fortalecendo o indivíduo como um todo, no físico-etérico-astral. Nestes pontos se expressam as forças de Xangô e Oxum.

            A pedreira tem a força mais centrípeta, de fora para dentro, pela maior condensação das moléculas que a compõem. Assim, reestrutura a forma da aura quando apresenta rombos etéricos, regenera, fixa, condensa, plasma e dá resistência mental, astral e física ao indivíduo. Local, por excelência, sob os domínios de Xangô.

           
A mata é concentradora de prana (energia vital) vegetal, restabelecendo a fisiologia orgânica em amplo espectro, sobretudo a psíquica mental, tendo impacto no Ori – cabeça – e na coroa mediúnica; fortalece a aura, o campo astral, o eletromagnetismo, a saúde e o mediunísmo, plasmando forças sutis. É também onde se encontra a maior quantidade e variedade de espécies animais que representam diversos Orixás, especialmente Oxosse e Ossãe.


          
  A montanha absorve os atributos vibratórios da pedreira e da mata, e, se tiver cachoeira, pela sua maior altitude e proximidade solar, o ar sendo mais rarefeito, é exímia concentradora de fluídos sutilíssimos, sendo excepcional local para entidades de alta envergadura espiritual atuarem. Não por acaso, os sábios e os homens santos de todas as épocas se recolhiam para meditação nos píncaros montanhosos, bem como muitos templos religiosos, abadias e mosteiros foram construídos nestes locais. Novamente aqui Xangô e seu falangeiros vibram mais fortemente, unidos aos demais Orixás conforme se apresentam as formações geológicas, hídricas e vegetais. Enfim, toda a Natureza, de modo geral, representa as emanações da Divindade Suprema (Zambi) por isto, qualquer local bem preservado e mantido com pouca (ou nenhuma) interferência modificadora do ser humano pode ser considerado um Ponto Sagrado e um verdadeiro Templo de Umbanda. Axé!

terça-feira, 20 de outubro de 2015

As Ervas Sagradas de Umbanda

         
Umbanda é Natureza. É reconhecer, respeitar e venerar o divino em cada formação natural que o ser humano recebeu de presente no planeta Terra. E, como não poderia deixar de ser, os vegetais são, por excelência, a maior expressão deste amor.
Ancestrais do culto já diziam que “sem folhas não há Orixá”... Tamanha importância que as ervas sintetizam dentro da religião umbandista. Sua diversidade na natureza e as inúmeras formas de seu uso constituem a essência da riqueza ritualística nos processos terapêuticos de tratamento e cura do corpo e do espírito.
Dentre seus principais usos na liturgia destacamos os chamados “banhos” de ervas. Selecionadas e indicadas pelos Guias de Luz para cada fim específico. Cada planta ou espécie vegetal possui uma ou várias propriedades que, quando utilizadas da forma correta e sob o encantamento direcionado pelos agentes da Luz Divina (Pretos-Velhos, Caboclos, Exus, etc.) resultam em verdadeiros “milagres” no atendimento às pessoas de fé. Temos os seguintes exemplos dos principais banhos: na forma de Amacis – limpeza e energização ao lavar a cabeça dos médiuns; Banhos de Descarrego  –  retirada de cargas nocivas que ficam impregnadas no campo áurico do indivíduo; Banhos de Proteção – que fortalecem o espírito e impedem que outras forças atuem contra a pessoa; Banhos Energéticos – que renovam o AXÉ e atuam positivamente no corpo mental restabelecendo o equilíbrio.
Existem inúmeras maneiras de utilização das ervas sagradas na Umbanda. Desde a preparação das folhas, que começa já na colheita junto à Natureza, que deve obedecer preceitos básicos e algumas condições, dia e hora adequadas para ser realizada, até seu manuseio, que envolve diversas técnicas que potencializam seus efeitos – tisana, infusão, decocção e maceração – e, por fim, sua aplicação, seja no momento do ritual ou posteriormente conforme orientado. Tudo isso é realizado sempre sob a tutela e proteção dos Orixás; e o sacerdote responsável por esta atividade deve ter o preparo e conhecimento necessários para que os objetivos (intenção) sejam alcançados.
Isso porque as ervas detém grande quantidade de energia vital, o elemento vegetal, através de infinitas combinações, pode produzir determinados efeitos positivos ou negativos, como tudo o que é energia no universo. Possuem forte poder para atuar em nossa aura e em nosso campo energético, fato este já conhecido pelos indígenas e demais povos ancestrais que sempre as utilizaram para diversos fins. A Umbanda se vale deste conhecimento para desenvolver seus rituais, seus descarregos, curas ou fortalecimentos, tudo comandado pelas entidades espirituais que determinam o uso apropriado do elemento vegetal conforme o caso.

Outra finalidade das ervas é propiciar maior contato do médium com seus Orixás. No ritual do Amaci a lavagem da cabeça simboliza a união do filho com seu “pai de cabeça”, daí a expressão popularmente conhecida “filho de santo”. Pois representa, entre outros, o aspecto iniciático do crente na nova religião. É por meio das folhas específicas de cada Orixá que se dá o enlace da coroa do neófito (abiã) e seus guias e santos protetores.
Vale lembrar ainda que além dos usos individuais acima citados, temos o uso coletivo das ervas naturais em todo ritual em que a verdadeira Umbanda acontece, através da Defumação do ambiente e das pessoas durante os trabalhos (Giras). Em resumo a Defumação é uma limpeza energética, que pode ser realizada também em outras circunstâncias e ou ambientes como nossas residências, comércio e outros locais de trabalho, desde que com a correta orientação dos Guias de Luz ou do Babá (dirigente) do terreiro.

Enfim, os vegetais, representados por inúmeras ervas, folhas, cascas e raízes, são indispensáveis à Umbanda assim como à sustentação dos seres vivos. São importantes reservatórios do AXÉ das energias primárias oriundas dos quatro elementos planetários: ar, terra, água e fogo. Axé!

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

MUSICALIDADE DA UMBANDA



Já comentamos que a Umbanda é uma religião relativamente nova na forma que é praticada hoje, pois foi formalmente fundada em 1908, no Rio de Janeiro, pelo Caboclo Sete Encruzilhadas. Porém sabemos que as principais características do seu culto datam de séculos e séculos de tradições africanas. Uma destas tradições é a sua musicalidade ritualística.

            Sendo a Umbanda uma religião de matriz africana, é evidente que sua prática está repleta da cultura negra que chegou ao Brasil durante o período da escravidão. O tambor era tão, ou mais, importante do que outros utensílios que garantiam a sobrevivência dos povos. De modo geral, era um instrumento utilizado em diversas atividades, mesmo as “não-religiosas”. Cerimônias políticas, cívicas, festejos e principalmente as guerras, aconteciam sempre ao som do tambor. Inclusive este foi um dos motivos que levou à corte portuguesa proibir seu uso no período colonial, pois o som dos tambores era uma forma de reunir os negros escravizados e o medo dos senhores proprietários de escravos quanto a um levante contra a opressão escravista transformou o uso dos tambores em crime cuja pena era a morte.

            O Atabaque é o principal representante desta manifestação cultural e religiosa. Seu nome é de origem árabe (at-tabaq = prato) e há registros milenares de seu uso, inclusive no Antigo Testamento – Macabeus 9-39. Mas não se sabe ao certo quem inventou este que é tido como verdadeiro instrumento musical de percussão que “fala”. Seu som é condutor do AXÉ (energia vital dos Orixás), o couro e a madeira vibrando em conjunto com as palmas e as vozes dos crentes, formam os chamados Pontos Cantados, autênticas sinfonias sagradas sem partitura responsáveis pela harmonia dentro do terreiro e que auxiliam tanto nos processos mentais de indução mediúnica como também na dissipação de energias indesejáveis no ambiente.
           
            Conforme relata o sacerdote e estudioso Alexandre Cumino: “O som grave da percussão de couro, trabalha o nosso chacra básico e a energia da terra, o que ajuda o médium a sintonizar com uma força primordial e a relaxar a mente. Voltando-se a terra, a cabeça para um pouco de pensar e atrapalhar o processo mediúnico. Para cada momento do ritual há uma música ou um Ponto adequado a ser cantado e tocado.” Notamos aqui o quanto é importante a música sacra para se realizar Umbanda. Muito mais do que simplesmente embelezar ou enriquecer seu ritual, o canto e o ritmo constituem imprescindíveis fundamentos do culto aos Orixás. Não é por acaso que existe o ditado: umbandista não ora, canta! Realmente é por meio dos cantos que louvamos, agradecemos e pedimos ao Criador Supremo (Zambi), a seus Santos Orixás e aos Guias de Luz que atuam na espiritualidade. Felizes aqueles que podem presenciar o momento da Abertura dos Trabalhos em um Gira, onde são executados os principais Pontos cantados e tocados de Umbanda, verdadeiras orações que, devido a sua graça e singeleza, nos ensinam linda lições de vida e nos religam ao sagrado. Não é raro, irmãos, irmãs ou simpatizantes que frequentam os centros de Umbanda receberem suas graças ou sua “iluminação”, até mesmo uma cura espiritual ou física enquanto esses Pontos estão soando pelo ambiente.

           
             As pessoas responsáveis pelos toques dos atabaques e por “puxar” as letras e as melodias dos Pontos Cantados, recebem o nome de Ogãs. Também é considerada uma forma de mediunidade e sacerdócio dentro do terreiro. O grupo de Ogãs e seus diversos instrumentos musicais – além dos atabaques, utilizam-se o agogô, o pandeiro, o ganzá, o chocalho, o berimbau, etc. – recebem o nome de Curimba. Apesar de existir diferenças nos aspectos formais de um templo para outro, no jeito de se fazer a Curimba, ela é responsável, junto com o Babá (chefe espiritual do terreiro) pela manutenção da boa vibração e sustentação do AXÉ da corrente de médiuns e seus auxiliares desde o início até o fim dos trabalhos ritualísticos. Favorece ainda que os consulentes absorvam melhor as energias renovadoras do plano espiritual, dispersa os fluídos negativos, os miasmas e contribui para que todos fiquem focados nos trabalhos.

Entendemos, portanto, que a afinidade musical da Umbanda é, além de histórica, sagrada. Ou seja, o som, o ritmo e a música correm nas veias do chamado Povo do Axé graças às suas origens africanas e também à maneira de se cultuar os Orixás. Axé!



Gustavo C M Souza, é bacharel em História pela USP e dirigente do Centro Espírita de Umbanda Ogum Sete Espadas

Para saber mais:

Livro: ABC do Ogã, o valor da Curimba na Umbanda – Severino Sena, editora Madras


Contato:

www.facebook.com/jorge.guerreira

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

A caminho da Luz

Quando alguém pensa em procurar um templo de Umbanda, seja para aliviar alguma necessidade física e ou espiritual que esteja passando, ou mesmo para conhecer a religião, surgem de imediato, diversas dúvidas e uma tremenda insegurança. Neste artigo vamos elucidar alguns pontos que auxiliarão muitos a encontrar um local adequado que realmente condiz à Luz Divina da Umbanda.

            Um templo umbandista, também chamado de terreiro ou Casa de Axé é um local consagrado aos divinos Orixás. E, para que esta energia e força do astral superior sejam realmente presentes o espaço aonde acontece o culto deve ser sagrado. Para isto há que se respeitar uma série de preceitos e cumprir certas obrigações exigidas segundo aquilo que chamamos de fundamentos da Umbanda Sagrada. Pois, no templo é onde ocorre a ligação mediúnica entre as entidades espirituais (mentores e guias de luz) com as pessoas (médiuns). O encontro entre o sagrado e o profano, em que métodos indutores dos estados de consciência são ativamente utilizados, objetivando a incorporação de espíritos benfeitores nos médiuns, afim de, junto com eles, realizar a caridade.

            Muitas vezes o consulente que busca conforto e orientação num momento de dor pode, devido ao desconhecimento, cair nas garras de usurpadores que se dizem sacerdotes (pai ou mãe de santo) que, ao invés de ajudar, acabam criando mais problemas ainda. Infelizmente o fato de alguém pendurar uma placa na fachada de um imóvel como o nome “Umbanda” não garante nada. Por isso é muito importante, para todos que procuram auxílio espiritual pela primeira vez na Umbanda, que se conheça ao menos os preceitos básicos da religião, como ela funciona e quais são seus verdadeiros alicerces.

            Conforme disse o Caboclo das Sete Encruzilhadas em 1908: “a Umbanda é a manifestação do espírito para a prática do bem e da caridade”, sendo assim vejamos alguns elementos que devem ser observados quando adentramos um centro umbandista: 1) a Umbanda crê num Ser Supremo, o Deus único criador de todas as religiões monoteístas: Yahweh para os judeus, Jeová para os cristãos, Allah para os muçulmanos, e Zambi, Olorum ou Obatalá para nós; os demais Orixás são emanações da Divindade, como todos os seres criados; 2) o propósito maior dos seres criados é a Evolução, o progresso rumo à Luz Divina. Isso se dá por meio das vidas sucessivas, a Lei da Reencarnação, o caminho do aperfeiçoamento; 3) existe uma Lei de Justiça Celestial que determina, a cada um, colher o fruto de suas ações, conhecida como Lei do Karma; 4) a umbanda se rege pela Lei da Fraternidade Universal: todos os seres são irmãos por terem a mesma origem, e devemos fazer ao outro aquilo que o outro gostaria que fosse feito a ele, ou seja, devemos respeitar as diferenças e agir com empatia; 5) a umbanda possui uma identidade própria e não se confunde com outras religiões ou cultos, embora respeite e reconhece a todos, partilhando alguns princípios com muitos deles; 6) a umbanda está a serviço da Luz Divina e só visa ao Bem, qualquer ação que não respeite o livre-arbítrio das criaturas, que implique malefício ou prejuízo de alguém, não é Umbanda; 7) a Umbanda não realiza, em qualquer hipótese, o holocausto (sacrifício ritualístico de animais), apesar de respeitar outras religiões de matriz africana – culto de Nação ou Candomblé – que se valem desta prática; 8) a Umbanda não preceitua a colocação de “despachos” ou “oferendas” em esquinas ou vias urbanas, e sua reverência às Forças da Natureza implica preservação e respeito a todos os ambientes naturais da Terra; 9) todo serviço de Umbanda é de caridade, jamais cobrando ou aceitando retribuição de quaisquer espécie por atendimento, consultas ou trabalhos. Quem cobra por serviços espirituais não é Umbandista; 10) a Umbanda é uma religião libertadora e não opressora. Respeita a diversidade e promove a inclusão social por meio da orientação, estudo e disciplina.

            Estas diretrizes servem de roteiro para quem almeja entrar em um templo umbandista de fato e de direito. Embora tenhamos variações rituais de um centro para outro, os fundamentos da Umbanda são pétreos. Além da gratuidade (não cobrança), pois espíritos de luz são benfeitores e não necessitam de dinheiro ou qualquer barganha, agrado, presentes ou favores, verificaremos numa verdadeira Casa de Axé a Simplicidade, Harmonia e Humildade. Jamais há ameaça ou medo aos frequentadores. É considerada uma religião ecologicamente correta, em que o respeito à Natureza é regra imprescindível. Sujar ou poluir o meio ambiente com velas, garrafas e outros restos inorgânicos, não faz parte de sua prática. A Umbanda não é proselitista, não exige conversão à sua causa e aceita democraticamente que seus frequentadores procurem outros cultos e doutrinas. Pois defende aquilo que o Dalai Lama disse: “a melhor religião de todas é aquela que faz de você uma pessoa melhor”. Pronto! Com essas informações básicas qualquer pessoa está apta a iniciar sua jornada a caminho da Luz, em busca de um verdadeiro templo umbandista e colher seus frutos. Axé!

Gustavo C M Souza, é bacharel em História pela USP e dirigente do Centro Espírita de Umbanda Ogum Sete Espadas

Para saber mais:

Livro: Iniciando na Umbanda – Norberto Peixoto, editora Triângulo da Fraternidade


Contato:

www.facebook.com/jorge.guerreira

Texto publicado no jornal "O Guaíra" de 25/09/2015.
O Hino da Umbanda foi composto por José Manuel Alves e oficializado em 1961 no 2º Congresso de Umbanda.  O autor em 1960 foi procurar o Caboclo das Sete Encruzilhadas em Niterói, em busca de cura para sua cegueira, o que não foi concedido devido ao processo cármico de José Manuel. Mais tarde procurou novamente o Caboclo para lhe apresentar uma canção que havia feito em homenagem à Umbanda, a qual foi tomada pelo Caboclo com Hino da Umbanda.
Na letra do Hino aparecem as características gerais da Umbanda, bem como sua Lei maior e sua missão. Ela vem para iluminar e acolher a todos, sem distinções raciais e preconceitos dos mais diversos tipos.  Traz os ensinamentos de Oxalá, do mestre Jesus, para fortalecer a todos, amparar e auxiliar os encarnados e desencarnados. No acolhimento que faz a Umbanda convida todos a encontrar a paz individual e coletiva, incentivando sempre a fraternidade, a formação de uma grande família. O exercício ao amor em todos os níveis, da caridade incondicional.
A mensagem deve ser levada a toda Terra, espalhada  pelo mar, orientada por Aruanda e pela luz divina em prol da vida e da evolução. Traz o incentivo às preces, à oração, à espiritualidade, à fé. Sempre seguindo a Lei maior: o amor e a caridade.
Neste sentido levar ao mundo inteiro a bandeira de Oxalá significa compartilhar o cotidiano, o amor e a paz, e nunca forçar alguém à conversão ou ao comparecimento às giras (Lei do livre arbítrio), nem impor a minha Umbanda como a verdade. A Umbanda é por natureza diversificada, completa e quando observamos essa diversidade, estamos formando a Umbanda.
Letra:
Refletiu a luz divina
Com todo seu esplendor
Vem do Reino de Oxalá
Onde há paz e amor
Luz que refletiu na Terra
Luz que refletiu no Mar
Luz que veio de Aruanda
Para todos iluminar
A Umbanda é paz e amor
É um mundo cheio de Luz
É a força que nos dá vida
E à grandeza nos conduz
Avante filhos de fé
Como a nossa Lei não há
Levando ao mundo inteiro
A bandeira de Oxalá.

Que o Hino da Umbanda esteja sempre em nossos corações. Axé!


Fonte: "O Livro Essencial de Umbanda", Ademir Barbosa Júnior, Universo dos Livros Editora, 2014.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

FESTA EM HOMENAGEM AOS ERÊS


Omi Ibeji. Beje ero! Salve a força das crianças! Salve os Eres, força pura, verdadeira que reluz no céu azul e traga ao nosso lar a paz e a esperança. Zele por todas as crianças.
Neste contexto que estamos convocando todos os irmãos para a integra doação a esta linha tão amanda da nossa querida Umbanda. Para nós umbandistas os Ibejis são Orixás que governam os querubins, a linha da cura. Este Orixá faz parte da tríade mais sagrada da Umbanda. Junto com  Oxalá e Iemanjá. E com a doçura desta linha iremos proporcionar uma homenagem inesquecível. Todos juntos formando uma força tarefa para tal realização. Muita luz a todos.
Salve São Cosme e São Damião.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

A Religião do Futuro



       Apesar de vivermos a chamada Era da Informação, num mundo cada vez mais populoso e globalizado em que não existem mais fronteiras geográficas e as noticias são instantâneas, a vida do ser humano atualmente é marcada por um profundo individualismo; talvez este, seja o maior paradoxo do século XXI.

            Facilitar ou melhorar a comunicação entre as pessoas é uma das intenções quando se busca a inovação tecnológica. Novos meios, novas mídias, novas plataformas; diversos aparelhos, cada vez menores e mais acessíveis etc., tudo isso faz parte da revolução digital; até novas linguagens surgem conforme a rede social: WhatsApp, Facebook, Twitter, dentre outras. Porém o grande desafio que se coloca é a qualidade desta comunicação. Pois, apesar de se falarem mais, as pessoas estão mais distantes. A fórmula: falta de tempo + velocidade + acesso digital resultou numa aparente aproximação; ou seja, as pessoas estão distantes umas das outras e se refugiam nesta falsa sensação de união. A aldeia global das mídias sociais é tão superficial e carente de conteúdo de qualidade que, somente na hora do “aperto” é que notamos o quanto estamos sozinhos e isolados. Milhares de almas divagam perdidas num mundo de aparências; perturbados pela busca do prazer sem limites e da lei do menor esforço. Este clima favorece o menosprezo do corpo: pois se dá importância à estética em detrimento da saúde; a preguiça mental: pois tudo com mais de duas linhas passou a ser “longo demais” para ser lido; e, a pobreza de espírito: pois viver de acordo com uma religião exige disciplina, coisa há muito tempo abandonada. A futilidade e a gana por mais “curtição” passam a comandar a ausência de sentido da vida. Haja vista, as quantidades absurdas de bebidas, cigarros e outras drogas consumidas por um número cada vez maior de pessoas, independente da idade.

            Vivemos um momento em que não estamos “juntos”, mas sim “aglomerados”.  Gente que se julga autossuficiente e que se esqueceu da importância do diálogo frente a frente, do abraço fraterno, da palavra ou gesto de carinho, da família como alicerce social, e, principalmente, se esqueceu de Deus. São os “sinais dos tempos”, poderiam dizer alguns. No entanto, digo, são sinais da ausência de Deus nas vidas das pessoas. Na Umbanda não acreditamos na maldade como algo exterior, uma força que exista por si só, independente do ser humano. A maldade existe onde Deus foi posto de lado e as trevas são simplesmente a ausência de Luz. Neste sentido, em nosso ritual utilizamos velas para materializar as intenções de dissipar as trevas e resgatar o equilíbrio dos três aspectos do ser humano: corpo, mente e espírito.

            A Umbanda é uma religião que acredita e prega a lei do Karma (palavra que significa “ação” que veio da antiga língua sagrada da Índia, o sânscrito), onde para toda ação existe uma reação. Tudo que o indivíduo fizer (ou deixar de fazer) hoje terá uma consequência amanhã, para cada efeito existe uma causa correspondente. Por isso é necessário que as pessoas despertem para a responsabilidade de seus atos e não se julguem como meras vítimas do destino. Por isso chamamos o Karma de justiça celestial, em que não há espaço para os conceitos de “culpa” e “castigo”, cada pessoa receberá de volta o resultado de suas ações, como um mecanismo essencial para revelar a importância dos comportamentos individuais e coletivos.



            Obviamente que o avanço tecnológico é algo positivo e necessário. Não há como negar o futuro, a cada dia nossas vidas serão invadidas por novos aparatos e descobertas numa velocidade estonteante que nos atropela e não dá o tempo necessário para adaptação. Porém cabe a cada um de nós saber utilizar seus benefícios e não permitir que certas facilidades nos deixem preguiçosos e superficiais. Isso ajuda ainda a manter uma vida saudável, cuidar do corpo físico, sem os excessos ditados pela estética da aparência que sabemos ser passageira, enquanto a alma é eterna. Buscar a Deus ou uma religião, seja qual for, é fundamental para não perdermos o rumo neste oceano incerto do futuro que se apresenta. Ocupar a mente com o sagrado é preencher de luz o espírito. É não dar espaço para a futilidade e viver com disciplina, ética e bom caráter. Estes são valores que a Umbanda tem a preocupação de disseminar em sociedade. Buscar um sentido para a vida, saber que desempenhamos papéis e temos responsabilidades, que nossos atos refletirão no amanhã. Libertar do ciclo vicioso do autojulgamento e do julgamento alheio, deixar de ser aquele que corresponde às expectativas do “outro” e da sociedade para sermos nós mesmos, descobrir quem somos nós. Trocar o “ter” pelo “ser”, abandonar a “aparência” e buscar a “essência”. Axé!
           
Gustavo C M Souza, é bacharel em História pela USP e dirigente do Centro Espírita de Umbanda Ogum Sete Espadas

Para saber mais:

Livro: O Axé, nunca se quebra,Irinéia M. Franco dos Santos, Ed. Edufal


Texto publicado no jornal "O Guaíra" de 16/9/2015.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

EXU: mitos e verdades.




            Quando alguém resolve escrever ou falar de Umbanda assume a responsabilidade de elucidar uma série de questões obscuras no pensamento da população leiga de modo geral. A maioria, das pessoas que não a conhecem, associa seus adeptos e simpatizantes à gente ignorante, sem cultura, fanática e fetichista. Neste artigo vou abordar o mito, talvez o maior de todos, que equivocadamente se criou a respeito dos famigerados e incompreendidos Exus.

            Em primeiro lugar volto a frisar que Umbanda é “a manifestação do espírito para a prática da caridade e do bem” qualquer coisa diferente disto: não é Umbanda! Isto posto, podemos prosseguir no conhecimento sobre quem são os Exus. Cujo nome, para muitos, não pode nem ser pronunciado, pois, na linguagem popular Exu é “agente do mal”, “espírito demoníaco”, que com seu tridente espalha maldades pelos terreiros onde “baixa” e aceita “serviços escusos” em troca de bebidas, dinheiro ou favores...

            Quanta falta de conhecimento, quanta inversão de valores e quanto preconceito. Poderia escrever um livro inteiro sobre as origens deste equívoco, porém, afim de não extrapolar os limites deste artigo, podemos dizer, resumidamente, que este mito, esta visão equivocada, surgiu exatamente por vivermos numa sociedade de classes e racista. Hoje em dia, este preconceito é agravado pela intolerância religiosa reforçada pela ignorância em seu sentido literal, etimológico: falta de sabedoria e instrução sobre determinado tema, ou ainda à crença em elementos falsos.

            Para facilitar o entendimento da figura de Exu, podemos fazer uma analogia da Umbanda comparando-a a uma empresa de grande porte, com toda sua complexidade, hierarquia e organograma. Onde cada setor seria responsável por um rol específico de tarefas e atividades, mas, que, no entanto, se complementam como partes de um todo, de acordo com os objetivos da corporação. Desde os sócios majoritários, a diretoria, os altos executivos, até os funcionários da limpeza, da copa, os seguranças, etc., todos são indispensáveis para o bom e correto funcionamento da empresa. Da mesma forma, os Exus têm a sua função; eles representam um dos “setores” dentro da religião. Ou seja, a cada Linha de Trabalho – maneira pela qual dividimos os tipos de guias de luz que trabalham nos terreiros – cabe uma responsabilidade; uma forma, um momento e um campo de atuação próprios nos tratamentos espirituais dispensados às pessoas que buscam auxílio na Umbanda.


            Notem, portanto, que Eles estão enquadrados, sim, como uma das Linhas de Trabalho, dentre os chamados “guias de luz”. Enfim, não existe Exu das trevas ou sem iluminação espiritual! Isso é mera desinformação. Infelizmente o que ocorre são as pseudomanifestações ou as mistificações enganosas oriundas de pessoas sem escrúpulos que usurpam o nome de Exu; charlatões interessados em obter dinheiro fácil às custas do sofrimento e desamparo alheio. Estes, sim possuem seus espíritos envoltos em trevas e um dia responderão por seus atos. Por outro lado para um espírito de luz receber o título de Exu, dele é exigido disciplina, ordem, respeito, estudo, sabedoria, honra, honestidade e acima de tudo “amor ao próximo”.  Todos os verdadeiros Exus trabalham somente para o bem. E sempre atuam em conjunto com os demais mentores da Umbanda, sejam eles Caboclos, Pretos-Velhos, Crianças, Baianos, Boiadeiros, Marinheiros, Orixás, etc. Todas estas entidades são interdependentes nos rituais de Umbanda. Elas se complementam, e formam uma única “equipe” (falange, como chamamos) de soldados de Cristo na luta contra as mazelas vividas pelo ser humano.

            Os Exus são os guardiões espirituais, são os protetores que nos socorrem nos momentos de maior desespero e aflição. Na labuta pelo pão de cada dia, pela integridade física e espiritual, são nossa defesa; mas, também, são forças que atuam na nossa consciência, exigindo retidão no comportamento e atitude ética de seus protegidos. São severos quando é necessária uma correção, mas complacentes perante às suplicas, perante o sofrimento e a dor. O autor F. Rivas Neto descreveu Exu como o “regulador planetário, que atua nos aspectos emocionais, instintivos e nas demandas energéticas, ele ainda neutraliza aqueles que se sintonizam com os planos mais baixos (...) Exu pune, mas não age como mau, pois está apenas executando a Lei. Por isso Exu não é bom nem mau, é Justo
           

            Existem ainda muitas outras questões sobre Exu a serem abordadas. Aspectos históricos ligados às etnias africanas que vieram para o Brasil e formaram o pano de fundo do quadro sócio-religioso que se apresenta nos dias de hoje. Por exemplo, a associação equivocada da imagem de Exu ao diabo, devido, principalmente a simbologia fálica (sexual) de Exu, que nada tem a ver com o pecado cristão; mas que, em verdade, representa simplesmente o culto à fertilidade tanto humana quanto da terra a ser cultivada, pois disto dependiam os povos para sobreviver na rusticidade do continente africano. Assunto para outro artigo... Salve Exu! Laroiê! Mojubá! Axé!
           
Gustavo C M Souza, é bacharel em História pela USP e dirigente do Centro Espírita de Umbanda Ogum Sete Espadas

Para saber mais:

Livro: Exu, o Grande Arcano – F. Rivas Neto, editora Ícone


Contato:

www.facebook.com/jorge.guerreira

Texto publicado no Jornal "O Guaíra" de 10/09/2015